Fico muito preocupado quando
leio algumas das ideias de alguns dos mais distintos e destacados autarcas
deste grande porto, repetidas vezes publicadas na imprensa, sobretudo porque
apresentam como solução para garantir maior coesão e inter-relação entre as
duas principais cidades da Área Metropolitana do Porto – o Porto e Gaia – a
construção de várias travessias entre as duas margens do Douro. Apresenta-se
esta política de investimento público, como o caminho que garante progresso e
maior coesão económica e social.
Pasme-se até o mais
desatento, que até já se afirmou que algumas dessas futuras novas pontes no
Douro terão de ser pagas?! Como se todos não soubéssemos que as teríamos de
pagar!
A principal causa que
encontro para o afastamento entre estas duas cidades radica numa inimizade
antiga entre os seus actuais presidentes de câmara. Desde o tempo em que um era
o Secretário-Geral do PSD e o outro presidente da Distrital do Porto do mesmo PSD.
Só a eles se deve o facto destas duas cidades estarem tantas vezes de costas
voltadas.
São vários os episódios
que bem retratam este afastamento. Ao longo dos últimos anos assistimos a uma
verdadeira batalha de protagonismo, desde as batalhas pela maior duração e
espectacularidade dos respectivos ‘fogos de artifício’ durante o São João, até ao
apoio institucional à candidatura das ‘Tripas à moda do Porto’ no concurso das
7 maravilhas da gastronomia, passando pela captação por Gaia dos investimentos
que o Porto tem sucessivamente rejeitado.
E parece que o
aproximar das eleições autárquicas de 2013 agudizará esta situação, porque
todos sabemos que um quer suceder ao outro, com a oposição do segundo que não
quer ser sucedido pelo primeiro.
Assistimos a isto tudo
impávidos e serenos, comentando apenas informalmente entre amigos e ninguém
aparece a dizer o que deve ser dito:
São tudo menos físicas e
feitas de betão as pontes que deveríamos ter entre o Porto e Gaia.
As pontes que deveriam
existir entre o Porto e Gaia são aquelas que assentam numa mudança de atitudes,
no encontro de consensos, na coordenação de políticas públicas, na articulação
de projectos políticos, na capacidade de saber encontrar ideias, que galvanizem
os cidadãos, que incentivem a iniciativa empresarial, que impulsionem as
estruturas económicas e sociais já existentes, que captem investimento directo
estrangeiro, que alavanquem o turismo, que propalem no mundo a imagem de
qualidade de conteúdos, de história e de estórias que este Grande Porto
proporciona a quem os visita.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - 4 de Maio de 2012