O Fantasporto - Festival Internacional de Cinema do Porto, é o maior festival de cinema de Portugal e é consagrado internacionalmente pela revista "Variety" como um dos sessenta mais importantes festivais do Mundo. Trata-se dum evento organizado pela cooperativa Cinema Novo.
É sempre bom recordar o que foi o nascimento e o desenvolvimento do Festival Internacional de Cinema do Porto, desde o seu lançamento em 1981 ainda como Mostra de Cinema Fantástico, até atingir a maioridade na edição de 1993.
Consagrado internacionalmente pela revista "Variety" como um dos vinte mais importantes festivais do Mundo, e no top dos de temática fantástica, tornou-se no mais significativo e falado acontecimento cultural e cinematográfico de Portugal.
Desde o seu início, pretendeu o Fantasporto tornar-se um fórum cultural e pólo dinamizador de todas as artes, com incidência especial na divulgação do bom e variado cinema de todas as partes do Mundo e de todas as tendências do fantástico e do imaginário.
Também foi preocupação inicial do Fantasporto apresentar um conjunto de iniciativas de âmbito cultural e artístico, como é o caso de exposições de artes plásticas, espectáculos de teatro e de marionetes, colóquios, edição de livros monográficos ou temáticos, concurso de cartazes, banda desenhada e cinema não-profissional.
Foi esta conjugação feliz das artes em torno do cinema, que permitiu ao Fantasporto conquistar um lugar indispensável no panorama cinematográfico nacional e internacional, consolidar o apoio e participação de um público entusiasta, implantar-se de forma definitiva junto das instituições oficiais e governamentais, orgãos autárquicos e ainda, junto de algumas empresas privadas.
Ao longo destes vinte e quatro anos exibimos em competição, a nível informativo, em antestreia ou em retrospectiva, mais de 5000 filmes (entre longas e curtas metragens) completamente inéditos em Portugal.
Procurámos alargar o número dos amantes de cinema, promovendo sessões especias para crianças, para deficientes e para escolas. Num esforço de descentralização cultural promovemos ao longo dos primeiros anos de festival extensões do Fantasporto em locais tão diferentes como Lisboa, Coimbra, Braga, Espinho e Póvoa do Varzim. O objectivo foi sempre o de divulgar o cinema em geral e promover o gosto pelo género fantástico em particular.
Trouxemos a Portugal e ao Porto, numa promoção das potencialidades turísticas da região e cujos efeitos a médio prazo não serão de negligenciar, nomes importantes do cinema, sejam eles realizadores, produtores, actores, argumentístas, críticos ou jornalistas.
Bill Plympton, Júlio Bressane, Richard Elfman, Brian Yuzna, David Lynch, Ben Kinskey, Mariano Baino, Robert Golden, Ray Brady, Luc Besson, Karel Zeman, Andrzej Zulawski, Francis Leroi, Wolf Gremm, Carl Schenkel, René Laloux, Mansur Madavi, Monique Enck .ºell, Oldrich Lipsky, Harry Kumel, Vicente Aranda, Juan Luis Bunuel, Roy Ward Baker, Ivan Cardoso, Piotr Szulkin, Mike Hodges, Jesus Garay, Rauol Servais, André Delvaux, Pim de la Parra, George Sluizer, Imanol Uribe, Jean Claude Carrière, Serguei Paradjanov, Ronald Lethem, sem esquecer as presenças de cineastas portugueses como António Macedo, Victor Silva, Ana Luisa Guimarães, Cristina Hauser ou Margarida Gil, Fernando Vendrell, Fernando Lopes, Joaquim Leitão, Tino Navarro, o produtor Paulo Branco, Manuel Costa e Silva, entre cerca de 10 milhares de convidados que nos deram o prazer da sua presença.
Ao longo de todas as edições promovemos e dignificamos o cinema português e o cinema europeu, como contraponto ao cinema americano.
Editámos dezenas de livros sobre cinema, como "Horror Show I, II" de Lauro António, "Spielberg" e "Cronenberg" de Pedro Garcia Rosado, "Edgar Allan Poe" de António Reis, "Roger Corman" e "1893-1993: Pequena história de uma arte que é também uma indústria" de Mário Dorminsky, "Terence Fisher" de G. Verschooten, "Frankenstein" de Beatriz Pacheco Pereira ou "Walt Disney - Um Mundo de Magia" de vários autores, Tendências do Cinema Espanhol de Núria Vidal ou uma Fotobiografia de Jacinto Molina..
Em cada edição transformámos, anteriormente o Auditório Nacional de Carlos Alberto num local aprazível e renovado onde dá gosto ver cinema e conviver, e agora o Rivoli - Teatro Municipal demonstrando desde sempre que a tão apregoada crise de cinema em Portugal não passava de uma crise numa certa forma de exibir cinema.
Montamos anualmente um circuito interno de video com ecrans gigantes e televisores a funcionar mais de 14 horas diárias, com salas de montagem, produção e filmagem, com envergadura profissional.
Criámos e consolidámos junto dos nossos convidados uma imagem de marca de simpatia e bom acolhimento, associado a uma organização competente e eficaz que nos popularizaram, entre todos os festivais.
O resultado final destas três décadas, numa retrospectiva muito sucinta, está à vista de todos e é bem patente nos volumosos dossiês de imprensa que todos os anos coligimos. Tornámo-nos um grande (em Portugal) Festival, com projecção muito significativa junto das produtoras e organismos internacionais, sem perder nunca as características de um tratamento privilegiado e informal junto dos convidados, da imprensa nacional e internacional e do imenso público que sempre nos tem acompanhado e ajudado a crescer.
Sem falsas modéstias podemos pois orgulharmo-nos como poucos de termos contribuido para a projecção internacional da cidade, da região e do país promovendo o cinema, e sobretudo devolvendo aos espectadores a vontade e alegria de ir ao cinema.
Manuel de Oliveira

de nome completo Manoel Cândido Pinto de Oliveira (Porto, 11 de Dezembro de 1908), é um cineasta português e, actualmente, o mais velho do mundo em atividade
Realizador mais velho do mundo em actividade, autor de trinta e duas longas-metragens , Manoel de Oliveira nasceu no seio de uma família da alta burguesia nortenha, com origens na pequena fidalguia. É filho de Francisco José de Oliveira, industrial e primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal, e de sua esposa, Cândida Ferreira Pinto.
Ainda jovem foi para A Guarda, na Galiza, onde frequentou um colégio de jesuítas. Admite ter sido sempre mau aluno. Dedicou-se ao atletismo, tendo sido campeão nacional de salto à vara, e atleta do Sport Club do Porto, um clube de elite. Ainda antes dos filmes veio o automobilismo e a vida boémia. Eram habituais as tertúlias no Café Diana, na Póvoa do Varzim, com os amigos José Régio, Agustina Bessa-Luís, e outros.
Aos vinte anos vai para a escola de actores fundada no Porto por Rino Lupo, o cineasta italiano ali radicado, e um dos pioneiros do cinema português de ficção. Berlim: sinfonia de uma cidade, documentário vanguardista de Walther Ruttmann, influência-o profundamente. Tem então a ideia de rodar uma curta-metragem sobre a faina no Rio Douro — Douro, Faina Fluvial (1931) foi o seu primeiro filme, que suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado dos críticos nacionais. Seria o primeiro documentário de muitos que abordariam, de um ponto de vista etnográfico, o tema da vida marítima da costa de Portugal, motivo repercutido em Nazaré, Praia de Pescadores de Leitão de Barros, Almadraba Atuneira de António Campos) ou Avieiros de Ricardo Costa).
Adquiriu entretanto alguma formação técnica nos estúdios da Kodak, na Alemanha e, mantendo o gosto pela representação, participou como actor no segundo filme sonoro português, A Canção de Lisboa (1933), de Cottinelli Telmo, vindo a dizer, mais tarde, não se identificar com aquele estilo de cinema popular.
Só mais tarde, em 1942, se aventuraria na ficção como realizador: adaptado do conto Os Meninos Milionários, de Rodrigues de Freitas, filma Aniki-Bobó (1942), um enternecedor retrato da infância no cru ambiente neo-realista da Ribeira do Porto. O filme foi um fracasso comercial, mas com o tempo daria que falar. Oliveira decidiu, talvez por isso, abandonar outros projectos, envolvendo-se nos negócios da família. Só voltaria ao cinema catorze anos depois, com O Pintor e a Cidade, em 1956.
Em 1963, O Acto da Primavera (segunda docuficção portuguesa) marcou uma nova fase do seu percurso. Com este filme, praticamente ao mesmo tempo que António Campos, iniciou Oliveira em Portugal, a prática da antropologia visual no cinema. Prática essa que seria amplamente explorada por cineastas como João César Monteiro, na ficção, como António Reis, Ricardo Costa e Pedro Costa, no documentário. O Acto da Primavera e A Caça são obras marcantes na carreira de Manoel de Oliveira. O primeiro filme é representativo enquanto incursão no documentário, trabalhado com técnicas de encenação, o segundo – que conheceu a supressão de uma cena por parte da censura – como ficção pura em que a encenação não se esquiva ao gosto do documentário.
Por causa de alguns diálogos no filme passou dez dias de cadeia na PIDE.
A obra cinematográfica de Manoel de Oliveira, até então interrompida por pausas e projectos não-realizados, só a partir da sua futura longa metragem (O Passado e o Presente, de 1971) prosseguiria sem quebras nem sobressaltos, por uns trinta anos, até ao final do século. A teatralidade imanente de O Acto da Primavera, contaminando esta sua segunda ficção, afirmar-se-ia como estilo pessoal, como forma de expressão que Oliveira achou por bem explorar nos seus filmes seguintes, apoiado por reflexões teóricas de amigos e conhecidos comentadores.
A tetralogia dos amores frustrados seria o palco por excelência de toda essa longa experimentação. O palco seria o plateau, em que o filme falado, em «indizíveis» tiradas teatrais, se tornariam a alma de um cinema puro só por ter o teatro como referência, como origem e fundamento. Eram assim ditos os amores, ditos eram os seus motivos, e ditos ficaram os argumentos de quem nisso viu toda a originalidade do mestre invicto: dito e escrito, com muito peso, sem nenhuma emoção, mas sempre com muito sentimento.
Manoel de Oliveira insiste em dizer que só cria filmes pelo gozo de os fazer, independente da reacção dos críticos. Apesar dos múltiplos condecorações em alguns dos festivais mais prestigiados do mundo, tais como o Festival de Cannes, Festival de Veneza ou o Festival de Montreal, leva uma vida retirada e longe das luzes da ribalta. Durante o Festival de Cannes em 2008, foi congratulado e felicitado pessoalmente pelo actor norte-americano Clint Eastwood.
Os seus actores preferidos, com quem mantém uma colaboração regular são Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Diogo Dória, Rogério Samora, Miguel Guilherme, Isabel Ruth e, mais recentemente, o seu neto, Ricardo Trepa. Não são também alheias as participações de actores estrangeiros, como Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni, John Malkovich, Michel Piccoli, Irene Papas, Chiara Mastroianni, Lima Duarte ou Marisa Paredes.
Em 2008 completou cem anos de vida, tendo, entre outras, comemorações, sido condecorado pelo Presidente da República, e assistido à produção de um sem número de documentários sobre a sua vida e obra. Centenário, dotado de uma resistência e saúde física e mental inigualáveis, é o mais velho realizador do mundo em actividade, e ainda com planos futuros.