sexta-feira, 21 de junho de 2013

Grécia, Turquia e Brasil


Na Grécia desligaram-se os emissores dos sinais de televisão e rádio públicos. Cala-se a voz pública numa tentativa de afirmação de um poder discricionário e absoluto para dentro, tentando dar uma imagem de bom aluno para fora. A população rebela-se, numa antecipação de posições que cada vez serão mais inflamadas.
Na Turquia opta-se por construir centro comerciais em espaços verdes. As antes ruidosas e até violentas manifestações, severamente reprimidas, são agora manifestações de silêncio imóvel.

No Brasil aumentam-se os preços dos transportes públicos aos cidadãos, mas mantêm-se as políticas de apoio financeiro à construção de grandes estádios de futebol e de infra-estruturas de apoio à organização do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos. O inicial protesto de São Paulo alastra já para mais de 30 cidades brasileiras.
As populações, em cada um destes países, indignam-se e manifestam-se, revoltadas pelas prioridades assumidas pelos seus responsáveis políticos.

Os governos mandatam as polícias de intervenção e ordenam às polícias de choque para que estas carreguem sobre os manifestantes. Mas a revolta alastra…
Os novos canais de comunicação, assentes nas redes sociais, utilizando as novas plataformas de interacção e de contacto como o Facebook e o Twitter, permitem que haja um imediata publicidade do que se está a passar em cada momento, em cada local.

As democracias sofrem abalos, numa escalada cujas réplicas serão ainda mais fortes do que os primeiros tremores sentidos.
O mundo encontra-se em rápida mudança.

Mesmo aqueles cidadãos que antes apenas desabafavam interiormente ou de forma muito circunscrita, incomodados com o rumo das coisas, saem hoje à rua, mais ou menos pacíficos para se solidarizarem com as novas causas.
Por muitas que sejam as razões invocadas, a causa é uma só: as diferenças sociais agravaram-se até ao inaceitável.

As populações estão a atingir o limite da sua paciência e não será mais possível que a verdade seja aquela que se pretende que seja contada, pelos canais formais e oficiais de cada país.
A consciência de todos está cada vez mais desperta e atenta às desigualdades, aos privilégios de alguns, e ao sofrimento de muitos.

Os responsáveis políticos de cada país, os responsáveis políticos internacionais têm que assumir outra posição, têm de dar ouvidos à indignação popular e responder com medidas concretas, transparentes e imediatas aos anseios de quem pouco tem a perder e muito tem a ganhar.
Estes imensos movimentos sociais têm de ter uma resposta, sob pena de não serem suavizados ou parados.

Os governantes que optarem por aplicar medidas severas, de imposição de silêncio, de restrição de manifestação, ou de corte de comunicações não conseguirão conter os manifestantes e aumentarão a revolta.
Corre-se um sério risco de culminarmos socialmente e politicamente num de dois extremos. Numa das hipóteses, a revolta permanente, a rebelião constante, a insubordinação social grave e continuada. No outro, o regresso a regimes totalitários, musculados e ditatoriais. Ambos os cenários são regressos indesejáveis mas possíveis se continuarem as incompetências presentes. 

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In 21 de Junho de 2013 - In Semanário Grande Porto