Na Grécia desligaram-se
os emissores dos sinais de televisão e rádio públicos. Cala-se a voz pública
numa tentativa de afirmação de um poder discricionário e absoluto para dentro,
tentando dar uma imagem de bom aluno para fora. A população rebela-se, numa
antecipação de posições que cada vez serão mais inflamadas.
Na Turquia opta-se por
construir centro comerciais em espaços verdes. As antes ruidosas e até
violentas manifestações, severamente reprimidas, são agora manifestações de
silêncio imóvel.
No Brasil aumentam-se
os preços dos transportes públicos aos cidadãos, mas mantêm-se as políticas de
apoio financeiro à construção de grandes estádios de futebol e de
infra-estruturas de apoio à organização do Mundial de Futebol e dos Jogos
Olímpicos. O inicial protesto de São Paulo alastra já para mais de 30 cidades
brasileiras.
As populações, em cada
um destes países, indignam-se e manifestam-se, revoltadas pelas prioridades
assumidas pelos seus responsáveis políticos.
Os governos mandatam as
polícias de intervenção e ordenam às polícias de choque para que estas carreguem
sobre os manifestantes. Mas a revolta alastra…
Os novos canais de
comunicação, assentes nas redes sociais, utilizando as novas plataformas de interacção
e de contacto como o Facebook e o Twitter, permitem que haja um imediata
publicidade do que se está a passar em cada momento, em cada local.
As democracias sofrem
abalos, numa escalada cujas réplicas serão ainda mais fortes do que os
primeiros tremores sentidos.
O mundo encontra-se em
rápida mudança.
Mesmo aqueles cidadãos
que antes apenas desabafavam interiormente ou de forma muito circunscrita,
incomodados com o rumo das coisas, saem hoje à rua, mais ou menos pacíficos
para se solidarizarem com as novas causas.
Por muitas que sejam as
razões invocadas, a causa é uma só: as diferenças sociais agravaram-se até ao
inaceitável.
As populações estão a
atingir o limite da sua paciência e não será mais possível que a verdade seja
aquela que se pretende que seja contada, pelos canais formais e oficiais de
cada país.
A consciência de todos
está cada vez mais desperta e atenta às desigualdades, aos privilégios de
alguns, e ao sofrimento de muitos.
Os responsáveis
políticos de cada país, os responsáveis políticos internacionais têm que
assumir outra posição, têm de dar ouvidos à indignação popular e responder com
medidas concretas, transparentes e imediatas aos anseios de quem pouco tem a
perder e muito tem a ganhar.
Estes imensos
movimentos sociais têm de ter uma resposta, sob pena de não serem suavizados ou
parados.
Os governantes que
optarem por aplicar medidas severas, de imposição de silêncio, de restrição de
manifestação, ou de corte de comunicações não conseguirão conter os
manifestantes e aumentarão a revolta.
Corre-se um sério risco
de culminarmos socialmente e politicamente num de dois extremos. Numa das
hipóteses, a revolta permanente, a rebelião constante, a insubordinação social
grave e continuada. No outro, o regresso a regimes totalitários, musculados e
ditatoriais. Ambos os cenários são regressos indesejáveis mas possíveis se
continuarem as incompetências presentes.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In 21 de Junho de 2013 - In Semanário Grande Porto