O crescimento económico
de qualquer país depende da sua capacidade de captação de novos investimentos,
e seja qual for a geografia onde esse país estiver localizado, existem vários
factores que são decisivos para qualquer empreendedor tomar a decisão de
investir ou de reforçar investimentos, seja ele nacional ou estrangeiro.
Em primeiro lugar,
depende muito da dimensão do seu mercado interno, conjugado com o poder de
compra dos seus agentes económicos, individualmente considerados, ou agrupados
nas famílias, empresas, governos centrais, ou entidades públicas regionais e
locais.
Em segundo lugar,
depende das pessoas que o compõem, das características da sua sociedade, seja
das competências dos seus recursos, seja do seu grau de instrução e do tipo de
qualificações predominante, depende dos conhecimentos formais provenientes da
rede oficial de ensino ou dos conhecimentos informais que advêm da sabedoria
adquirida através dos mais velhos, depende da sua formação profissional, e
depende da sua pirâmide etária e do consequente melhor equilíbrio entre a energia
e ambição da parte jovem da população balanceada com a maturidade dos mais
experientes e idosos. Nesta dimensão concentra-se a fundamental interligação do
ensino com as empresas, a existência de Universidades de excelência, que
investem na I&D, geradoras de empreendedorismo, inovação e conhecimento.
Em terceiro lugar,
depende do modelo de organização da sua sociedade, e da forma como está
estruturada a sua Administração Pública e de como estão interligados os vários
serviços públicos. Essa organização administrativa, a forma como é conhecida e
respeitada, e a forma como esta age, se é eficiente nos seus processos e eficaz
nos resultados que alcança são indicadores fundamentais para quem quer investir.
Em quarto lugar,
depende da eficácia do sistema de justiça, que faça prevalecer a justiça das
decisões, que só o são se forem tomadas em tempo útil. Aqui o conceito de
utilidade é o conceito económico do termo. Uma economia fica mais saudável se
estiver aliada a uma Justiça eficaz e célere que protege os interesses dos
agentes económicos, dirimindo rapidamente os potenciais conflitos entre
concorrentes ou entre fornecedores e clientes. Neste ponto não é só a justiça
que tem impacto mas todo o sistema de regulação económica. A existência de um
forte edifício de Entidades Reguladoras em mercados e em sectores chave,
entidades públicas, com capacidade, meios e poder de intervenção, livres e
independentes fortalece toda a economia, porque contribui para o acicatar da
concorrência leal entre agentes económicos.
Em quinto lugar,
depende da estabilidade do seu sistema político, mas mais do que da
estabilidade política do seu governo ou a perpetuação dos governos, a economia
depende mais da estabilidade das políticas, e da forma como cada governo não
altera de forma radical os percursos iniciados pelos governos antecessores.
Aqui concentra-se a necessidade da estabilidade do seu sistema fiscal e a
necessidade de agilidade na tomada de decisões. Os agentes económicos não
gostam nem desgostam de eleições, mas sim reagem aos possíveis efeitos negativos
que estas possam ter, como sejam os atrasos de decisões administrativas, as totais
disrupções de caminhos percorridos, ou a inversão completa de objectivos
públicos.
Em sexto lugar, depende
do seu grau de abertura ao exterior. Uma economia aberta que interage com
outras economias, mais vizinhas ou mais distantes, é mais capaz de diversificar
riscos, exportando os seus produtos, e importando bens e matérias-primas,
competindo a uma escala global, obrigando-se a melhorar as suas competências,
capacidades, inovando nos seus processos e produtos.
Mas em todos estes
exemplos atrás enumerados há um fator que os perpassa e que prevalece que é o
factor da confiança. Não é apenas a confiança que um qualquer governo tem da
parte de uma Assembleia da República que o sustenta. Não é apenas a confiança que
as pessoas têm umas nas outras. Não é apenas a confiança que as pessoas têm nas
instituições que organizam e sustentam uma sociedade. Não é apenas na confiança
que cada qual tem em si próprio e nas suas capacidades, conhecimentos e
competências.
É sobretudo a confiança
no seu futuro, chame-se-lhe fé, chama-se-lhe esperança.
Esta confiança de que
falo, consegue-se apenas no colectivo, e no conjunto da sociedade, mas depende
sobretudo dos timoneiros que a lideram, e emana da sua visão global e de longo
prazo. Esta confiança demora muito tempo a ser uma atitude de um povo, e
constrói-se ao longo de muitos anos. Esta confiança quando existe sente-se, não
se diz, não se verbaliza.
É dessa confiança que
Portugal precisa.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 2 de Agosto de 2013