Um dos problemas estruturais da sociedade portuguesa actual é a sua característica dificuldade em ter visão de longo prazo e em assumir riscos.
Esta dificuldade sente-se nas reacções e exigências que são feitas, e reflectidas nos órgãos de comunicação social, sempre que o Governo toma medidas cujos efeitos negativos no curto prazo permitirão inflectir tendências, que causariam danos e, necessariamente, medidas correctivas ainda mais penalizadoras no longo prazo.
Essa mesma situação verifica-se quando os agentes económicos se mostram pouco propensos a assumirem riscos na condução das suas actividades, quer no lançamento de novos produtos, quer na entrada em novos mercados, quer ao nível dos investimentos que se propõem realizar.
Dizem alguns que é fruto da época dos descobrimentos – os audazes foram os que saíram da pátria em busca de um novo futuro, os que ficaram são os que sentiram receio de dar o próximo passo, ou seja, filhos do ‘Velho do Restelo’.
Países como os Estados Unidos que mais investiram em áreas que não são as típicas prioridades dos povos europeus, como o sector aeroespacial, a aeronáutica ou as tecnologias militares, usufruem de vantagens competitivas em diversos domínios da economia real. Exemplo disso é o sistema americano designado por GPS, hoje de todos conhecido e em utilização massiva, e as dificuldades sempre sentidas no arranque do Galileu - projecto europeu de geo-referenciação.
É normal a Europa responder ou mesmo reagir por efeito arrastamento, e em Portugal nem sequer se vislumbrar acção.
E se Portugal decidisse investir milhões na exploração aeroespacial ?
Cairia decerto o Carmo e a Trindade !
Saber ler as tendências do que se passa no mundo globalizado, ser arrojado e ambicioso. Não ter receio de decidir, não ter receio de assumir riscos. Assumir que as decisões nem sempre correm bem. Aprender com os erros, mostrando-os e não os esconder, investir no conhecimento das causas para a ocorrência dos maus resultados, para evitar más opções futuras por simples repetição. Em suma, ‘saber perder, para saber ganhar’ - são atitudes que devemos apoiar e sobretudo valorizar. Só assim garantimos as condições para sermos verdadeiramente desenvolvidos por auto-iniciativa.
Sente-se, actualmente, que algo de novo está em marcha… com impactos no nosso futuro.
O Governo tem apostado em ser a candeia que ao nível das novas tecnologias, nomeadamente as que respeitam o ambiente, iluminando duplamente o caminho que deverá ser percorrido pela iniciativa privada. A concreta indicação, como factor de competitividade presente, mas fundamentalmente futuro, da necessidade de investimento nas tecnologias associadas à produção de energias renováveis – aerogeradores, energia das ondas, energia fotovoltaica, biomassa, é de facto um novo sinal de esperança que a todos deve tocar.
A este apelo, a esta indicação deve ser dado pela sociedade e pela iniciativa privada uma resposta concreta, capaz, e ela própria geradora de novas necessidades e descobertas.
Cabe-nos, sim, a nós, o papel fundamental que é o de sermos capazes de assumir a responsabilidade de contribuirmos para a mudança de comportamentos e de atitudes, e não delegarmos nos outros ou nessa entidade em sentido lato – GOVERNO - porque nos é mais confortável por parecer tão afastado. Valorizarmos pela positiva os erros, não pelo erro em si mesmo, mas pela capacidade em aprendermos e corrigirmos os caminhos com vista aos objectivos ou corrigirmos os objectivos que entretanto se descobre que foram mal delineados. Assumir riscos e decidir, monitorizando o percurso que se inicia, efectuando os ajustes necessários.
É esta a cultura de que o país está sedento, e de que já fomos capazes de ser, outrora quando navegamos primeiramente à vista da costa africana, e depois confiamos nas rotas das estrelas para mostrar ao mundo como ele é uma linda esfera azulada.In Jornal de Notícias em 22 de Fevereiro de 2008