No seio das empresas, comum é, para auxílio das administrações, solicitarem-se pareceres independentes de consultores, na análise de diversos assuntos que respeitam o presente e o futuro. Pretendem esses pedidos, na maioria das vezes, fundamentar a tomada de decisão, quanto a opções a serem tomadas.
No seio do sistema partidário português, faz-se por diversas vezes e muito presentemente a discussão em torno da ligação dos partidos à sociedade, e a opção de alguns partidos (uns mais do que outros) em chamar para junto de si independentes, sejam personalidades com valor, competências e experiência longa e profunda, actividade desenvolvida, que permitam agregar valor às propostas desses partidos na condução do país, ou muito simplesmente na condução de uma autarquia.
Nas empresas a criação interna de competências, centradas na sua actividade ‘core’, é fundamental para uma política efectiva de sustentabilidade.
Nos partidos deve-se persistir e aprofundar a capacidade de atracção para o seu seio de pessoas e de personalidades activas, competentes, experientes, de forma a dotarem-se de capacidades multidisciplinares que lhes permita serem uma opção séria e credível aos olhos da sociedade para assumirem os destinos dos órgãos aos quais se apresentam.
Cuidar que nas empresas o contínuo recurso ao papel dos consultores não seja uma forma de apenas sustentar as opiniões já vincadas, para a consequente tomada de decisão, dessa forma melhor vestida para ser apresentada aos demais ‘stake-holders’ ( diferentes públicos com diferentes interesses na prossecução da actividade ) da empresa.
Evitar que o demasiado esforço na atracção de independentes para próximo dos partidos não seja uma forma de tentar adoçar a imagem dos mesmos, e diminuir a repulsa que os mesmos têm sentido por parte de grandes franjas da sociedade ‘dita’ civil.
O que se passa muitas vezes, não é de facto isto…
Nas empresas o excesso de recurso a consultores para actividades ‘core’, tendem cada vez mais a proteger os decisores da sua própria decisão, e das reacções que delas advenham.
Nos partidos o excesso de recurso a independentes tem o efeito oposto ao pretendido, pois a verdadeira razão de existência desses mesmos partidos deixa de ter sentido aos olhos da sociedade, a sua capacidade de atracção para dentro da militância deixa de existir e de ser trabalhada pelos dirigentes desses mesmos partidos.
Quem é consultado decide,
O independente de qualquer militância dirige,
As empresas tornam-se dependentes dos consultores, e os partidos ficam dependentes dos independentes que atraem.
Esta realidade não é de facto exclusiva do nosso país, é aliás uma importação de práticas do país modelo da ‘Governação’ seja ela empresarial, seja ela política. Mas até nos Estados Unidos algumas dessas premissas há muito entendidas como acertadas ou infalíveis, tem vindo a ser alvo de uma nova e aprofundada reflexão. Quem tem a responsabilidade de decidir deve apoiar-se em evidência e estudos, mas deve acima de tudo assumir os riscos da responsabilidade que aceitou.
Sim à decisão pelos decisores !
Não à dependência dos independentes !In Jornal de Notícias em 17 de Fevereiro de 2008
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