A seriedade e a honestidade de um qualquer indivíduo não pode, nem deve nunca ser avaliada em termos relativos.
Declarar que um cidadão é mais honesto do que outro, ou afirmar que um cidadão é mais sério que outro, é uma comparação para a qual não estou disponível.
A seriedade e a honestidade são valores absolutos.
Ou se é honesto ou se não é. Ou se é sério ou se não é.
Quando se caracteriza, um indivíduo relativamente a um outro indivíduo, corre-se o risco de concluir que apesar de um ser mais sério e honesto que outro, poder no entanto não o ser em termos absolutos.
Este tipo de comparações serve a quem quer suavizar uma qualquer acção ou inacção, ou pretende ‘arranjar desculpas’, focando a atenção naqueles que são por si considerados menos sérios ou menos honestos, numa tentativa de ‘passar seco por entre as pingas da chuva’.
Ora um dos candidatos às eleições presidenciais sentenciou o país, colocando-se acima de todos os portugueses, dizendo-se mais sério que todos nós.
Pode este facto ficar para sempre adormecido na história política portuguesa?
Não pode!
E não pode, porque esse candidato será muito provavelmente o próximo Presidente da República nos próximos cinco anos, numa repetição de um exercício passado, que provou não ser competente na gestão política dos dossiers, na adequação dos timings, na forma da intervenção, na relação com outros órgãos de soberania, enfim até no fundamental afastamento da agenda político-partidária.
Mas percebe-se… quem conhece minimamente a evolução económica deste país, quer em termos macro quer em termos micro, e sabe como este candidato, que nos acompanha como político há mais de 30 anos, se furta na assumpção de quaisquer responsabilidades por tudo o que de mal foi executado.
Foi ministro das finanças, no início da década de 80, antes da segunda vinda do FMI a Portugal, foi primeiro ministro do nosso país durante 10 anos e, com um ‘tabu’, tentou fazer esquecer os erros da sua governação na direcção económica que incutiu ao país que dirigia. Esses erros foram claros na canalização dos fundos da CEE para a construção de estradas, demasiadas vezes mal construídas, para a construção de rotundas para deleite de autarcas, na destruição de indústrias transformadoras, na capitulação perante os países mais fortes da CEE permitindo a redução e quase extinção da nossa frota pesqueira, e permitindo também a quase extinção da produção agrícola nacional.
Esses erros são hoje impossíveis de esconder. ~
Assumir erros é também ser-se sério
In Semanário Grande Porto em 21 de Janeiro de 2011