sexta-feira, 22 de abril de 2011

É só fazer as contas !

Nunca como agora, os portugueses tiveram a oportunidade de votar de uma forma totalmente esclarecida. Hoje todos os portugueses sabem em que estado está o seu país. Nas próximas eleições não haverá enganos. Poderão existir resistências, desistências, abstenções e protestos, mas todas estas atitudes decorrem da consciência de cada um face ao conhecimento que tem da situação séria em que nos encontramos. Os assuntos sérios devem estar em cima da mesa, e devem fazer parte do debate eleitoral. Não há lugar a quaisquer desculpas ou esquecimentos.
Portugal encontra-se em plenas negociações com o FMI. Na fase das negociações técnicas, para além da avaliação da dimensão do problema que se estima situar-se nos 100 mil milhões de euros, está também a definição do plano de reembolsos a serem efectuados por Portugal, e finalmente a definição da data de início e tempo de duração desses reembolsos, assim como dos montantes anuais a serem reembolsados. Na fase das negociações políticas, o nosso país terá de se comprometer com a aprovação e implementação de políticas públicas que permitam o integral cumprimento das obrigações às quais passará a ficar estritamente vinculado.
Se fizermos as contas saberemos que cada um dos 10 milhões de portugueses ficará a dever em média cerca de 10 mil euros aos nossos parceiros europeus da zona euro. Se levarmos 10 anos a pagar essa dívida a uma taxa de juro de 5% ao ano, cada português terá de pagar em cada um desses 10 anos cerca de 1050 euros, o que equivale a cerca de 87,5 euros por mês.
Lá em casa somos 4, o que dá um encargo mensal médio de 350 euros durante esses 10 anos.
São contas muito simplificadas para melhor percebermos o que caberá a cada um de nós pagar. E trata-se apenas do que temos de pagar pelos gastos excessivos de Portugal dos últimos 20 anos.
Será que nos permitem pagar em 10 anos?
A tudo isto teremos de somar o que é necessário cortar nas nossas despesas para passarmos a gastar, a partir de agora, apenas o que temos realmente capacidade de pagar. Será um ajustamento brutal, no nosso futuro imediato, que se estima em pelo menos 5% do total dos nossos rendimentos anuais, ou seja, em média 1000 euros por cada português.
Lá em casa, porque somos 4, são cerca de 4000 euros de rendimentos por ano a menos, ou seja, menos 334 euros por mês. Tudo somado terei de fazer um ajustamento médio de cerca de 684 euros por mês, entre uma redução de rendimentos e um aumento de encargos fiscais.
Como eleitores, como cidadãos, como portugueses devemos exigir que comecem a fazer as contas...
In Semanário Grande Porto de 22 Abril 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Gestores do Tempo

A actual situação financeira do país, no que respeita à contínua necessidade que Portugal tem de recorrer a novos endividamentos quer para satisfazer as necessidades correntes de funcionamento do Estado, quer para pagar endividamentos passados e respectivos juros, era de todos conhecida. Era uma situação conhecida pelos Governos, era uma situação conhecida pelas Oposições. Nas duas últimas décadas, os sucessivos governos, compostos por diversas forças políticas, utilizaram o mesmo mecanismo para irem atrasando a efectiva resolução do problema.
Todos sabiam que havia um limite, uma verdadeira parede, e todos achavam que esse limite estava longe de ser atingido. Todos achavam que Portugal estava muito longe de bater na parede. Essa parede, era o limite a partir do qual quem nos empresta dinheiro deixava de estar disponível para continuar a fazê-lo.
E assim, em Portugal, na última década e meia, assistimos complacentes, condescendentes ao tardar do início da resolução dos problemas estruturais do país. Esses problemas são hoje evidentes na dimensão alcançada em vários sectores e que assusta qualquer um de nós, que agora de uma forma melhor informada e mais consciente começa a perceber melhor onde chegamos e onde verdadeiramente estamos.
As sucessivas lideranças políticas portuguesas subestimaram o problema, desvalorizaram-no, não quiseram que fosse prioridade, não permitiram que o assunto estivesse em cima da mesa. Era até, afinal, a última das prioridades. Os mercados e os financiadores, que hoje são apelidados de vilões, foram a sustentação do nosso desvario. Todos aqueles que ao longo de anos falavam sobre este problema de sub-financiamento da nossa economia, e tentavam reunir as informações e tentavam abordar com sistematização o assunto eram maltratados e apelidados de “profetas da desgraça”.
Portugal especializou-se em gestão do tempo, em formar verdadeiros gestores de tempo, uns que apenas tentam acelerar o ritmo do tempo, e outros que muito se esforçam em atrasar o seu avanço.
Para uns havia a necessidade de acelerar o tempo, aguardando a verificação da agudização e agravamento das condições, para que lhe fossem mais favoráveis para a sua ascensão. Outros aplicaram um enorme esforço para atrasar o mais possível o decurso do tempo, aguardando que as circunstâncias melhorassem e então pudessem continuar, por mais algum tempo, tal qual como até aqui.
Mas o tempo avança sempre ao mesmo ritmo, e o seu avanço é imparável.
Não temos mais espaço entre nós e a parede.
E era só uma questão de tempo !
In Semanário Grande Porto 8 de Abril de 2011