A actual situação financeira do país, no que respeita à contínua necessidade que Portugal tem de recorrer a novos endividamentos quer para satisfazer as necessidades correntes de funcionamento do Estado, quer para pagar endividamentos passados e respectivos juros, era de todos conhecida. Era uma situação conhecida pelos Governos, era uma situação conhecida pelas Oposições. Nas duas últimas décadas, os sucessivos governos, compostos por diversas forças políticas, utilizaram o mesmo mecanismo para irem atrasando a efectiva resolução do problema.
Todos sabiam que havia um limite, uma verdadeira parede, e todos achavam que esse limite estava longe de ser atingido. Todos achavam que Portugal estava muito longe de bater na parede. Essa parede, era o limite a partir do qual quem nos empresta dinheiro deixava de estar disponível para continuar a fazê-lo.
E assim, em Portugal, na última década e meia, assistimos complacentes, condescendentes ao tardar do início da resolução dos problemas estruturais do país. Esses problemas são hoje evidentes na dimensão alcançada em vários sectores e que assusta qualquer um de nós, que agora de uma forma melhor informada e mais consciente começa a perceber melhor onde chegamos e onde verdadeiramente estamos.
As sucessivas lideranças políticas portuguesas subestimaram o problema, desvalorizaram-no, não quiseram que fosse prioridade, não permitiram que o assunto estivesse em cima da mesa. Era até, afinal, a última das prioridades. Os mercados e os financiadores, que hoje são apelidados de vilões, foram a sustentação do nosso desvario. Todos aqueles que ao longo de anos falavam sobre este problema de sub-financiamento da nossa economia, e tentavam reunir as informações e tentavam abordar com sistematização o assunto eram maltratados e apelidados de “profetas da desgraça”.
Portugal especializou-se em gestão do tempo, em formar verdadeiros gestores de tempo, uns que apenas tentam acelerar o ritmo do tempo, e outros que muito se esforçam em atrasar o seu avanço.
Para uns havia a necessidade de acelerar o tempo, aguardando a verificação da agudização e agravamento das condições, para que lhe fossem mais favoráveis para a sua ascensão. Outros aplicaram um enorme esforço para atrasar o mais possível o decurso do tempo, aguardando que as circunstâncias melhorassem e então pudessem continuar, por mais algum tempo, tal qual como até aqui.
Mas o tempo avança sempre ao mesmo ritmo, e o seu avanço é imparável.
Não temos mais espaço entre nós e a parede.
E era só uma questão de tempo !
In Semanário Grande Porto 8 de Abril de 2011
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