sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fomos Muito Incautos

Todos nós, portugueses, temos uma característica que não nos deve engrandecer, que nos enferma, é a falta de assumpção de responsabilidades. Temos sempre a necessidade de, quando se tenta analisar quem são os responsáveis pelos problemas, normalmente olharmos por cima do ombro a tentar encontrar a sombra de alguém, outros a quem possamos atirar a culpa.
Sim, a culpa! Porque não estamos disponíveis a tentar encontrar os responsáveis, mas, tão só e apenas, sempre muito empenhados a tentar encontrar os culpados pela ocorrência dos problemas.
Será porque, se tentássemos encontrar os responsáveis, aí teríamos que começar a olhar ao espelho ?
E isto da responsabilidade tem muito que se lhe diga.
Em primeiro lugar, como bons portugueses, queremos ‘estatuto’ mas não as responsabilidades que dele advêm.
Em segundo lugar, porque dá trabalho e… quase me esquecia….ficar com a responsabilidade sobre projectos ou tarefas obriga, normalmente, a que tenhamos de construir algo. E, decerto que já não nos lembramos como se faz…
Sabemos sim, de há muito tempo maldizer, sabemos como ninguém usar o escárnio, sabemos deitar abaixo, desconstruir, ou melhor dizendo destruir. Mas, construir, tentar edificar uma ideia, iniciar um projecto, um negócio, tentar concretizar uma visão….não, isso é para outros, apenas alguns que ainda acham que serão capazes…..coitados ! Mas cá estaremos nós para lhes dizer…a esses tolos…como estavam errados.
Voltando atrás : somos todos os verdadeiros e únicos responsáveis pelo país que temos, e pela situação a que chegamos.
Ou porque decidimos, elegendo as sucessivas lideranças políticas deste nosso país. Ou porque tendo sempre estado do contra, e saindo sempre derrotado em todas as eleições não soubemos ser uma verdadeira oposição participativa, construtiva ou alternativa e, finalmente fiscalizadora.
Ou também porque decidimos, cruzando os braços e não ligando nada aos aborrecidos assuntos da política, não indo votar, fazendo parte daquele “grupo que até chegou a ganhar eleições”, mas que nunca quis assumir quaisquer responsabilidades.
Já sei que mais vale dizer que os culpados são os sucessivos governantes deste país. A mim também me apetece muitas vezes chamar-lhes em surdina ‘uns nomes’……mas quando me vou deitar, custa-me adormecer porque sei que podia ter feito mais e melhor pelo futuro dos meus filhos e podia ter-me esforçado mais para ter um PORTUGAL que se orgulhasse mais de mim.
Mas sinto que ainda vamos a tempo !

In Semanário Grande Porto em 20 de Maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Exigência

Estamos a presenciar o advento de uma nova era, um novo ciclo para o qual devemos todos estar preparados. O Mundo apresenta-se cheio de desafios, pleno de novos problemas, repleto de obstáculos que importam conhecer detalhadamente.
Vivemos já sob os efeitos das alterações climáticas, com os seus já muito visíveis fenómenos climatéricos repentinos com concentração no espaço e no tempo. Somos actores do fim da era do petróleo, com uma crise energética mundial com a sua enorme e imparável escalada de preços. A crise alimentar mundial é também uma realidade, com crescente falta de capacidade de produção de alimentos que permitam satisfazer as necessidades da humanidade.
De tudo isto Portugal não se consegue isolar, nem amenizar os efeitos sobre si, e depara-se com a adição de novos problemas próprios da sua realidade.    
A pequena economia portuguesa não revela capacidade de crescer e se desenvolver, porque demasiado fragmentada em pequenos agentes económicos, em que outros, poucos, de maior dimensão estão muito dependentes do Estado. A economia portuguesa não tem capacidade para satisfazer as necessidades internas, quer alimentares, quer ao nível dos produtos industriais. A economia concentrou-se no sector terciário e na prestação de serviços, cujas características intrínsecas limitam a facilidade de os transaccionar em mercados internacionais. A crise económica é evidente.
A sociedade portuguesa também passa por momentos muito complicados, com uma taxa de desemprego agora sempre acima dos 11%, o que provoca uma enorme responsabilidade sobre os mecanismos de protecção social existentes. É uma sociedade envelhecida, que aumentará esse desequilíbrio pelas suas taxas de natalidade das mais baixas da Europa, e ainda pouco qualificada. A crise social aprofunda as dificuldades de Portugal.
O país tem dificuldades financeiras, com despesas privadas e públicas acima das suas capacidades próprias de geração de riqueza. O recurso contínuo a endividamento externo ao longo de cerca de duas décadas provocou um nível de endividamento global do país acima da média europeia. As dificuldades cada vez maiores em conseguir obter novos financiamentos para pagar os financiamentos passados e as novas necessidades, quer ainda para pagar os juros dos financiamentos existentes, tornam quase uma realidade o insucesso na obtenção de novos financiamentos. A crise financeira restringe os caminhos possíveis de resolução dos problemas. 
A tudo isto somou-se, em Março passado, uma crise política, decorrente da tensão entre todos os partidos, o que levou à ocorrência da demissão do governo e a dissolução da Assembleia da República. A crise política provoca ainda mais incerteza em todos.
Perante este cenário todos os agentes políticos têm de mostrar que estão à altura das suas ambições e os líderes partidários têm de demonstrar que estão à altura do país que querem governar.
Na campanha eleitoral para as eleições do próximo dia 5 de Junho, os políticos e os dirigentes partidários têm que corresponder às palavras de Fernando Pessoa quando escreveu: “ Porque eu sou do tamanho do que vejo; E não, do tamanho da minha altura...”
Esta é a nossa única exigência.
In Semanário Grande Porto - 6 de Maio 2011