sexta-feira, 3 de junho de 2011

Yes Men

Para quê dar mais valor aos que nos contraditam com bons argumentos e que, de forma sustentada, nos fazem repensar e reponderar as nossas anteriores certezas, do que o valor que damos aos que bem repetem as nossas ideias e bem nos sabem elogiar?
O Ego humano tem uma crescente dimensão directamente correlacionada com o alimento que lhe forem dando. Quantos mais elogios nos fazem, quantos mais seguidores temos, quantos mais repetidores das nossas ideias, mais necessitamos de estar rodeados por quem assim nos valoriza. Formamos à nossa volta uma corte homogénea e o mais possível igual a nós, se possível em tudo, gestos, gostos, hábitos, tiques, expressões faciais, vestuário e linguagem.
Se alguém ousa sair do alinhamento, ou não tem regresso, ou passa a estar integrado para ser o bôbo, de quem todos nós nos possamos rir, se possível às gargalhadas, quando, e só por piada, ousa dizer algo diferente de nós, ou quando, com graça, se atreve a contrariar uma ideia por nós defendida.
Todos os dias acordamos e saímos confiantes dos sucessos que vamos com toda a certeza alcançar, até porque estarão lá sempre os que decerto tratarão de nos bater palmas pelo que dissermos, ou pelo que fizermos. Serão os guardiões da nossa felicidade e a garantia das nossas conquistas.  
Para ter acesso a este grupo mais restrito, é preciso saber ser melhor na forma como consegue contribuir para o engrandecimento dos feitos do ‘chefe’.
Primeiro é preciso ser apresentado a um elemento do grupo e saber conquistá-lo. E a conquista deve passar sempre, numa primeira fase, por começar a enaltecer esse mesmo membro do grupo, que também é como o ‘chefe’, pois também lhe copia o gosto pelos seguidores e por aqueles que o acham ‘muito bom’, apenas superado pelo próprio ‘chefe’.
Depois de muito elogio e seguidismo, quando há a oportunidade de conhecer o ‘chefe’, deve-se saber escutar e saber concordar com a sapiência demonstrada. Fazer perguntas, muitas, mas sem que essa atitude revele querer questionar o que é dito, tão só para se mostrar muito interessado no que o ‘chefe’ pensa.
A conquista final passa por decorar muito bem a ‘mensagem’, e saber ser um dos melhores a propalá-la. Nesta fase, tem de se ser convincente… tal com o ‘chefe’. A ‘mensagem’ tem de ser passada com afinco e muita confiança. Aqui é que se destacam os melhores dos melhores, aqueles que conseguem ganhar espaço e visibilidade na forma como repetem com capacidade de persuasão dos demais crentes.
São os ‘Yes Men’ quem melhor fortalece os ‘chefes’, mas também são eles que provocarão, mais cedo ou mais tarde, a sua queda.

por Rui Saraiva, publicado In Semanário Grande Porto em 3 de Junho de 2011

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