sábado, 10 de março de 2012

Os nossos Portos

Leixões é uma plataforma logística portuária com um elevado significado na economia do norte do país. Servindo um ‘hinterland’ que parte da Área Metropolitana do Porto e envolve toda a região norte, o norte da região centro, atingindo mesmo algumas zonas fronteiriças de Espanha, no Sul da Galiza e no Oeste de Castilla Y León, contribuindo para o aumento da competitividade dos sectores exportadores, competindo com qualidade, serviço, diligência e modernidade com os outros portos, nomeadamente os portos galegos.  

A Administração do Porto do Douro e de Leixões, através da manutenção da sua estratégia, há muito delineada, e pela continuidade das suas políticas tem conseguido apresentar resultados positivos invejáveis, com crescimentos ímpares nas quantidades de cargas movimentadas, que são despachadas e desalfandegadas através deste porto, tanto ao nível da carga geral, como ao nível da carga contentorizada, superando já os 500 mil TEU’s movimentados por ano.

A mais recente aposta de Leixões no mercado de passageiros, com o projecto, em grande parte já executado, de construção de um novo terminal de passageiros no molhe sul, permitindo a acostagem dos mais recentes navios de cruzeiro, cujas maiores dimensões, com cerca de 300 metros de comprimento, já não permitiam utilizar o antigo terminal, tem dinamizado o turismo, que cada vez mais procura esta região, num despertar aparentemente tardio, mas que em tempo está a desenvolver toda uma variada economia local. 

Sá Carneiro é uma plataforma aeroportuária cada vez mais utilizada e procurada. O investimento público aí efectuado, que lhe conferiu dignidade, dimensão, modernidade e qualidade reconhecida em vários prémios internacionais, tem produzido resultados, antecipando as previsões de tráfego, alcançando no ano passado mais de 6 milhões de passageiros.
Com estes percursos e com estes resultados então porque se pretende incluir estas infraestruturas em processos de concentração de gestão no caso dos portos, ou de privatização conjunta no caso dos aeroportos?

A escassez de recursos financeiros e as necessárias medidas de racionalização e de rentabilização, podem ser alcançadas através de múltiplos caminhos.
A independência destas duas plataformas, e a manutenção da sua “posse” são fundamentais para o país, porque são fundamentais para toda a região norte, que tem sido sempre aquela que melhor tem sabido responder à tão necessária dinamização económica nacional, com vista ao aumento das exportações.

Ora isto não inviabiliza de forma alguma a possibilidade de concessão a privados das operações que lá se encontram instaladas.

No caso de Leixões isso já acontece. Mas a sua integração numa holding portuária nacional desfocará a atenção da futura gestão para outros objectivos, levando a que a perda de autonomia resulte na perda de competitividade desta infraestrutura, com prejuízos potenciais para toda a economia regional.

No caso da privatização da ANA como um todo, sem a opção pela autonomização de cada aeroporto, sem a opção pela privatização ou sem a concessão da gestão aeroportuária de forma individualizada, Sá Carneiro será sempre considerado pela futura nova gestão numa lógica integrada, e não, como até aqui, numa lógica própria, com uma abordagem específica do seu próprio mercado, competindo com os demais aeroportos nacionais e da Galiza, na tentativa constante de ganhar dimensão, escala, qualidade, servindo cada vez melhor os seus clientes, sejam eles passageiros, sejam eles as empresas de transporte aéreo de mercadorias que também cada vez mais utilizam este aeroporto do norte.

Neste caso, como em muitos outros, a soma das partes pode, à primeira vista, valer menos que a venda, alienação ou concessão após a sua integração total, permitindo assim um maior ganho financeiro imediato e de curto prazo.

Mas os efeitos económicos negativos que esta decisão terá, para a toda a região norte a médio prazo, serão superiores aos ganhos que se pretendem agora rapidamente obter.

Manda a prudência, que nas decisões não se opte pelo caminho mais fácil, mas sim por aquele que fundamentadamente represente a melhor opção, não só no curto, mas sobretudo no médio e no longo prazo.

Rui Saraiva

Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - em 9 de Março de 2012

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