São os dois a face visível, já
muito titubeante, de um governo que se encontra submerso por uma pesada manta
de descrédito, muita desconfiança, acrescida de um imparável descontentamento.
Aqueles que deviam ter a
responsabilidade de assegurar a estabilidade governativa e de contribuir para a
credibilidade externa do nosso país junto das instituições europeias e da
opinião pública internacional foram os únicos causadores de uma verdadeira ruptura
social.
As novas medidas de austeridade
anunciadas pelo primeiro e aceites pelo segundo (apesar de com elas não
concordar) sobre as alterações da Taxa Social única (TSU) são tecnicamente
erradas, são socialmente injustas e são politicamente insanas, revelando uma
insensibilidade social inadmissível, um total desconhecimento da realidade
económica e do comportamento dos seus principais agentes económicos, revelando
também uma enorme impreparação técnica e uma falta de consciência política
inacreditável.
Após o anúncio deste novo garrote
fiscal, e do conhecimento que tivemos de que as contas do orçamento deste ano
vão derrapar mais do que o previsto, fica a certeza de que algo está a correr mesmo
muito mal. Percebemos que a avaliação realizada pelos elementos externos que
compõem a Troika não correu nada bem. Ficamos com a consciência, mas sem o
conhecimento, de que as metas propostas por este governo para este ano não vão
ser atingidas, nem vamos ficar perto de as atingir, apesar de terem obrigado
todos os portugueses a percorrerem, desde há mais de um ano, um caminho árduo e
agreste.
Concluímos que as medidas propostas
para este ano faliram, e com elas arrastaram empresas e pessoas, causando mais
desemprego do que aquele que ocorreria se as medidas fossem outras, com os
consequentes aumentos das despesas sociais do estado, provocando o desespero de
agentes de muitas actividades económicas como a restauração, motivando também o
aumento da fuga aos impostos.
Todos temos o direito de saber o
que se está a passar com as contas do nosso país.
Devemos exigir que nos expliquem o
que se passa de facto, o que não está a correr bem, e quais as causas para isso
estar a acontecer.
Se o não fizerem não nos estarão a
respeitar como cidadãos, e deverão tirar as devidas consequências. Não bastará
uma simples remodelação de governo, de recalibração das medidas anunciadas, de
modelação das soluções já apresentadas, ou de ajustamentos às propostas já
negociadas com a Troika.
Há dois mil anos, os apóstolos
Pedro e Paulo anunciavam a ‘Boa Nova’, e propalavam palavras de esperança aos povos,
incentivando-os a acreditar nas suas palavras e nos princípios e valores que nelas
estavam subjacentes, contribuindo dessa forma para a construção de um novo
mundo.
Hoje do nosso Pedro e do nosso
Paulo as palavras que lhes ouvimos, amedrontam, desesperam, enegrecem a visão
sobre o nosso futuro colectivo.
Rui Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 21 de Setembro de 2012