quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ceteris Paribus


A expressão “tudo o resto constante” que intitula este texto, é muito usada pelos economistas nas análises que estes realizam ao comparar vários cenários macroeconómicos ou microeconómicos alternativos, usando modelos multivariáveis, e quando nessa análise fazem mudar apenas uma das variáveis sob observação, mantendo todas as demais variáveis constantes, e dessa forma tentar aferir qual a influência que essa mudança induzida tem no resultado final do modelo.

Esta expressão é o chapéu mais indicado que serve na perfeição a cabeça do governo português.

Na elaboração do Orçamento de Estado (OE) para 2012, o Governo português aplicou diversas medidas tendo em vista as necessidades de cumprimento das metas incluídas no Memorando de Entendimento (MoU) assinado com a Troika, no programa de financiamento extraordinário solicitado por Portugal em 2011. O OE2012 incluiu várias medidas numa tentativa de aumento de receita mas que não tiveram em conta, em momento algum, o ajustamento da procura.

Disso são exemplos claríssimos as medidas para aumento da receita fiscal proveniente de impostos indirectos, mais concretamente as que incidiram sobre o aumento de IVA, através da revisão das taxas e das tabelas deste imposto sobre o consumo.

O facto de não se ter previsto no OE2012 uma quebra de consumo, que fosse reflexo do aumento da carga fiscal, como reacção normal dos contribuintes e consumidores, numa tentativa que estes fazem de atenuarem as dificuldades que já sentem diariamente, é muito preocupante.

Como pudemos todos verificar no último relatório conhecido sobre o desempenho orçamental português, a receita fiscal proveniente do IVA, em vez de subir face ao mesmo período do ano anterior, teve o resultado totalmente inverso: caiu.

Este facto revela a falta de preparação técnica e política dos decisores, que colocam num documento de fundamental importância, como é o OE, objectivos e resultados a alcançar que são pura ilusão… mas apenas para os mais distraídos.

Logo que se conheceram publicamente as políticas, os valores e as metas constantes no OE2012, vários intervenientes apareceram publicamente a apontar a dificuldade de serem alcançados os objectivos indicados, por preverem que haveria quer uma quebra de consumo, quer um aumento das tentativas e mecanismos de fuga aos impostos, quer pelo facto de muitos estabelecimentos comerciais poderem fechar portas, nomeadamente restaurantes, por não poderem sustentar os seus negócios com a quebra de consumo associado a uma diminuição de margens comerciais.

Mas a resposta foi a manutenção das previsões e dos planos, sem revisão dos pressupostos e dos resultados esperados. Parece até que o OE2012 foi construído ao contrário, dos resultados pretendidos para as medidas e para as políticas.

O resultado está aí : Portugal vai falhar o cumprimento das metas previstas de déficit orçamental para este ano.

Será que se mudássemos de responsável pelo ministério das finanças e de responsável pelo ministério da economia se manteria tudo o resto constante?

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - In 31 de Agosto de 2012

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