segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Dimensão de Estado


Perguntamo-nos recorrentemente qual a dimensão que um Estado deve ter, e quais as funções que um Estado deve assumir. Atrevemo-nos muitas vezes a dizer, sem conhecimento de causa que temos um Estado muito gordo, pesado, burocrático. Tendemos a tratar o todo pela parte, não distinguindo quem faz bem de quem faz mal. Assumimos, sem aprofundamento maior, que o sector privado, é em geral melhor do que o sector público na execução das tarefas e que é mais eficiente na utilização dos recursos e mais eficaz no alcance dos objectivos.

Este debate está na ordem do dia, não só em Portugal mas em toda a Europa. Países que outrora se encontravam aparentemente imunes a necessidades de resgates financeiros, hoje estão na primeira linha da exposição aos implacáveis agentes e intermediários dos mercados financeiros mundiais.

A crise das dívidas soberanas, colocou todos, públicos e privados, sob grandes restrições, e abraçados por um garrote, que não tem conseguido estancar a fuga dos capitais dos investidores, que antes acreditavam, sem qualquer questionamento, nos ‘ratings’ e nas avaliações ‘independentes’ de risco efectuadas pelas ‘isentas’ agências de rating internacionais.

Em quase toda a Europa se reduzem as prestações sociais, sejam as pensões e os subsídios de desemprego, seja em valor ou seja através da redução dos prazos máximos da sua atribuição, seja ainda na exigência de contrapartidas aos beneficiários dessas mesmas prestações.

Assistimos incrédulos, a cada dia que passa, à redefinição e redução dos deveres do Estado, defendida ‘com unhas e dentes’ por aqueles que até agora afirmavam exactamente o contrário, e que com pouca sapiência e sem qualquer critério de racionalidade, a não ser uma excelente interpretação teatral, digna de um Óscar de Hollywood, vêm dizer que não cabe ao Estado desempenhar alguns desses papéis.

Muitas vezes o que anda escondido, de forma clara, porque todos nós vemos mas que poucos ousam em apontar o dedo, é a tentativa de passagem de atribuições e responsabilidades outrora do Estado aos grupos privados, mas mantendo a dependência financeira do Estado. É de facto uma privatização de muitas funções do Estado, em que os privados fazem e ganham com isso, mas em que o custo se mantém do lado do Estado, sem que haja redução da factura para os contribuintes, ou sem que haja aumento da qualidade ou da rapidez na prestação do serviço.

O Estado deve assegurar o que os privados não querem, porque se querem é porque dará dinheiro, e se dá dinheiro é porque há procura para os bens ou serviços, ao preço apresentado face à qualidade oferecida, num equilíbrio entre a oferta e a procura. E os privados não devem querer apenas o que o Estado já não quer fazer mas que ainda está disponível a pagar. Os privados que o são de facto não dependem em nada do Estado.

O Estado deve manter a sua acção forte na área da Saúde garantindo cuidados de saúde primários, assegurando serviços de emergência médica e de ambulatório e de tratamento de doenças, deve ser forte na área da Educação, garantindo a igualdade de acesso e de oportunidades para todos, e deve ser forte na área da Segurança Social, na protecção do desemprego e no apoio pós reformas. Mas nas demais áreas deve ficar reduzido ao papel de regulador, um regulador forte, isento e independente, com força suficiente para acompanhar as acções da verdadeira iniciativa privada, impondo-lhe regras de funcionamento e operação, aferindo da sua real lealdade de competição entre agentes e operadores.  

Rui Saraiva
Gestor
Publicado In Semanário Grande Porto - In 10 de Agosto de 2012

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