Foi para todos uma
grande surpresa, um gesto que ninguém esperava, mas que colheu logo e por todo
o mundo reconhecimento e simpatia pela coragem demonstrada e pela capacidade e
enorme inteligência que Bento XVI demonstrou em concluir que não tinha mais
forças nem saúde para continuar a liderar os destinos da Igreja Católica
Apostólica Romana, resignando. Foi uma decisão livre e consciente, pessoal e
reservada. Não sendo inédito na Igreja, tal situação não ocorria há seis
séculos.
O lugar de Santo Padre,
de Cardeal dos Cardeais, de discípulo de São Pedro era por toda a humanidade
aceite e considerado como lugar vitalício, e que quem a ele acedia tinha de o
desempenhar até ao fim dos seus dias. Este era o entendimento que todos tinham
sobre a missão do Papa, até ao recente anúncio da resignação.
Este gesto dignifica a
função, dignifica a instituição papal e dignifica a Igreja.
Há gestos assim, que
marcam para sempre as pessoas e as instituições, e esta decisão pessoal do Papa
Bento XVI deveria servir de exemplo para muitos dos que teimam em se eternizar
nos lugares que ocupam, apesar de em muitos desses casos ser claramente visível
a falta de capacidade e de condições para permanecerem no cargo.
Temos em Portugal um
sem número de destacadas personalidades que se querem tornar eternos, e se
recusam em fazer a sua autoscopia e de reconhecer que muito provavelmente já
não dispõem das mesmas faculdades físicas e mentais para assegurarem com a
mesma dinâmica e com a mesma lucidez e sapiência a condução das instituições
onde ainda resistem a manter-se.
Todas as funções
públicas ou privadas devem ter um tempo máximo de desempenho devidamente
definido e fixado, ou então podem e devem existir critérios objectivos que, verificados,
permitam a saída dessas funções, quando reconhecidamente deixarem de existir condições
para o exercício desse mesmo cargo.
Perguntamos sobre quais
os verdadeiros motivos que levam a muitos se quererem eternizar nas suas
funções e nos seus lugares. Será porque acham que ninguém melhor do que eles
exercerá tão bem ou melhor essas funções? Será porque o poder os ofuscou? Ou
será porque o poder os inebriou? Será porque têm receio do dia seguinte? Será
porque acham que serão apenas lembrados pelos lugares que ocupam?
As instituições devem
ter uma duração temporal muito superior ao tempo daqueles que sucessivamente as
lideram. As pessoas podem marcar as instituições, mas não devem é nunca querer
confundir-se com elas.
O que podemos concluir
é que todo o bem que algumas pessoas fazem às instituições que lideram, a
partir de um determinado momento em que é ultrapassado o tempo devido para o
exercício desse cargo, pode ser totalmente apagado pelo mal causado por essa sua
perpetuação. Se não no momento presente, tal verificar-se-á num momento futuro.
Como é bem referido
pela sabedoria popular “Não é o hábito que faz o monge”, mas sim a pessoa com
os seus gestos, com as suas atitudes, com as suas acções, com os seus valores e
com os seus princípios que pode dignificar a função e o lugar que ocupa.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 15 de Fevereiro de 2013