quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Resignação Papal


Foi para todos uma grande surpresa, um gesto que ninguém esperava, mas que colheu logo e por todo o mundo reconhecimento e simpatia pela coragem demonstrada e pela capacidade e enorme inteligência que Bento XVI demonstrou em concluir que não tinha mais forças nem saúde para continuar a liderar os destinos da Igreja Católica Apostólica Romana, resignando. Foi uma decisão livre e consciente, pessoal e reservada. Não sendo inédito na Igreja, tal situação não ocorria há seis séculos.

O lugar de Santo Padre, de Cardeal dos Cardeais, de discípulo de São Pedro era por toda a humanidade aceite e considerado como lugar vitalício, e que quem a ele acedia tinha de o desempenhar até ao fim dos seus dias. Este era o entendimento que todos tinham sobre a missão do Papa, até ao recente anúncio da resignação. 

Este gesto dignifica a função, dignifica a instituição papal e dignifica a Igreja.

Há gestos assim, que marcam para sempre as pessoas e as instituições, e esta decisão pessoal do Papa Bento XVI deveria servir de exemplo para muitos dos que teimam em se eternizar nos lugares que ocupam, apesar de em muitos desses casos ser claramente visível a falta de capacidade e de condições para permanecerem no cargo.

Temos em Portugal um sem número de destacadas personalidades que se querem tornar eternos, e se recusam em fazer a sua autoscopia e de reconhecer que muito provavelmente já não dispõem das mesmas faculdades físicas e mentais para assegurarem com a mesma dinâmica e com a mesma lucidez e sapiência a condução das instituições onde ainda resistem a manter-se.

Todas as funções públicas ou privadas devem ter um tempo máximo de desempenho devidamente definido e fixado, ou então podem e devem existir critérios objectivos que, verificados, permitam a saída dessas funções, quando reconhecidamente deixarem de existir condições para o exercício desse mesmo cargo.

Perguntamos sobre quais os verdadeiros motivos que levam a muitos se quererem eternizar nas suas funções e nos seus lugares. Será porque acham que ninguém melhor do que eles exercerá tão bem ou melhor essas funções? Será porque o poder os ofuscou? Ou será porque o poder os inebriou? Será porque têm receio do dia seguinte? Será porque acham que serão apenas lembrados pelos lugares que ocupam?

As instituições devem ter uma duração temporal muito superior ao tempo daqueles que sucessivamente as lideram. As pessoas podem marcar as instituições, mas não devem é nunca querer confundir-se com elas.

O que podemos concluir é que todo o bem que algumas pessoas fazem às instituições que lideram, a partir de um determinado momento em que é ultrapassado o tempo devido para o exercício desse cargo, pode ser totalmente apagado pelo mal causado por essa sua perpetuação. Se não no momento presente, tal verificar-se-á num momento futuro.

Como é bem referido pela sabedoria popular “Não é o hábito que faz o monge”, mas sim a pessoa com os seus gestos, com as suas atitudes, com as suas acções, com os seus valores e com os seus princípios que pode dignificar a função e o lugar que ocupa.

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - In 15 de Fevereiro de 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário