A estratégia orçamental
e financeira que está a ser implementada em Portugal foca-se apenas em
adicionar aos cortes já conhecidos outros de que ainda apenas conhecemos as
intenções. Esta estratégia assenta apenas numa base de comparação com a riqueza
que o país consegue produzir anualmente, comparando o déficit orçamental anual
com o PIB do ano respectivo. É uma análise que é exclusiva em termos relativos
mas que tem enormes impactos em termos absolutos e está a dar maus resultados.
Esta prática tem-nos conduzido a um definhamento económico e a um
enfraquecimento social, porque ao mesmo tempo que conseguimos melhorar em
termos relativos o déficit orçamental anual, reduzimos brutalmente o valor
anual do nosso Produto Interno Bruto.
Os resultados desta
estratégia são já por todos conhecidos e estão a acentuar-se de forma
galopante, como sejam o ‘enorme’ e imparável desemprego, a catadupa de
falências de pequenas e médias empresas, o desaparecimento quase total de
alguns sectores da nossa economia, como o sector do imobiliário e da
construção, ou o sector da restauração em algumas áreas do nosso território
nacional, e por fim o incrível aumento da emigração, cada vez mais qualificada
e jovem.
A seguir a cortes de
consequências nefastas sucedem-se outros com resultados ainda mais graves. Esta
espiral recessiva não tem fim, a não ser o decretar da falência irrecuperável
de um povo secular.
Ninguém consegue
perceber qual o rumo do país, e o pouco que consegue esperar é um futuro muito
sombrio, em que os poucos portugueses e os poucos empresários resistentes
vergados pelo enorme peso dos impostos sobre o trabalho, e sob a enorme carga
fiscal sobre o consumo, lhes retira a réstia de esperança que tinham num Estado
Social, com os profundos cortes anunciados nas três fundamentais funções
sociais que são a Escola Pública, a Saúde Pública e a Segurança Social Pública.
Apesar das muitas e
sucessivas explicações os portugueses ainda não perceberam porque é que têm de
pagar esta pesada factura, mas apenas sabem que são obrigados a assumi-la.
Têm-lhes dito que viveram acima das suas possibilidades. Têm ralhado com os
portugueses porque estes erraram ao aderir no passado recente aos incentivos
que lhe foram dados pelos sucessivos governos nas suas políticas erráticas.
Endividaram-se, compraram casa com recurso ao crédito, fizeram férias, ousaram
comprar carro, passaram a fazer parte da classe média, enfim ambicionaram
usufruir de alguns confortos.
Mas será que são estas
as verdadeiras explicações para a nossa actual debilidade?
Não nos podemos
esquecer dos ‘padrinhos’ e dos ‘compadrios’, dos ‘consultores’ e dos ‘assessores’,
da ‘cunha’, dos ‘lobbies’, e dos ‘grupos de interesses’, dos ‘corporativismos’,
e das ‘classes corporativas’, do ‘jeitinho’, da ‘desculpa’, da ‘excepção’ que
se foi tornando regra, da dependência dos ‘contratos celebrados com o Estado’,
das ‘tomadas de poder no sector bancário’, da ‘falta de fiscalização’ e da
‘falta de regulação’ inexistente em alguns sectores da actividade económica, da
entropia de leis e da falta de regulamentação de muitas delas, do excesso de
legislação e da falta de estabilidade legislativa e por fim das muitas e
sucessivas reformas do aparelho de estado, sem que se lhes desse tempo para a
sua correcta execução e fundamental avaliação.
Actualmente todos os
serviços públicos assegurados pelo nosso Estado são já pagos ‘a peso de ouro’.
Contribuímos com os nossos impostos, e depois ainda pagamos a utilização de
tudo o que é público e que utilizamos. É assim nas Estradas, é assim nos
Transportes Públicos, é assim na Saúde, é assim em quase tudo…já pouco sobra.
E perguntamos: porquê
pagar? Para quê pagar? Ser solidário mas saber que no futuro ninguém o será
connosco?!
Instala-se hoje uma
inquietação crescente: será que estamos dispostos a pagar para um Estado que já
sabemos que não vamos ter?
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 25 de Janeiro de 2013
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