sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Regresso à Casa


Escolho para primeiro assunto deste ano novo aquele que me deixa um tremendo nó na garganta e que me faz embrulhar o estômago. A muito recente e dramática revisão unilateral, tomada pelo governo, do acordo antes assumido, para o corte de financiamento público à CASA DA MÚSICA, uma das mais recentes instituições culturais da cidade do Porto, mas hoje já um dos mais importantes símbolos culturais e turísticos para as gentes do Porto e para todos os que o visitam.

Não está em causa o corte em si mesmo, até porque a Administração da CASA DA MÚSICA e os membros da Fundação que a gere já tinham assumido lealmente e aceitado, num acordo subscrito com o Governo, o corte na subsidiação pública de 20% face aos números de 2011, e nessa base, tinham já concluído a programação para o ano de 2013, conseguindo substituir o corte no financiamento público por verbas privadas, obtidas junto dos membros privados da Fundação e obtidos junto de outros agentes económicos privados da região.

O que me causa muito mal-estar, é a forma como o actual Governo, pela voz de um novo Secretário de Estado da Cultura (que apenas ocupa esse lugar, por uma saída antecipada do seu antecessor, que o fez por motivos pessoais e de saúde) que alegando desconhecer o acordo já firmado e estabelecido, revelou um novo corte adicional de 10%, e revelou ainda que o mesmo se aplicaria ao ano em curso, ou seja ao próprio ano de 2012, aplicando esta medida, na sua totalidade, com efeitos retroactivos.

Todos os Portugueses têm a consciência de quão difícil será o novo ano que agora mesmo se iniciou. Todos os agentes económicos sabem qual o esforço que este ano vai representar, e quais os obstáculos que vão enfrentar para poderem manter a sua facturação, a sua quota de mercado, e para manter todos os postos de trabalho. Todas as instituições sociais e de solidariedade conhecem quais os caminhos agrestes que agora começam a tornar-se mais graves e mais tortuosos por deterioração da situação social do nosso país. Todas as instituições culturais sabem que a sua actividade vai ficar mais exposta por redução substancial dos apoios públicos.

Também dessa realidade estava a CASA DA MÚSICA totalmente consciente e solidária, tendo já revisto a sua programação para o presente ano 2013 assumindo um esforço de encontrar recursos para poder manter uma oferta cultural com os mesmos parâmetros de qualidade com que nos tem habituado e orgulhado.

A quebra de palavra do Governo e a apresentação dos novos cortes com total desfaçatez, inaceitáveis no tempo e no modo, só merece o nosso total repúdio público, merece ser criticável em voz alta e grave, e deve ser censurável a todos os níveis, em primeiro lugar político.

Atacar assim a cultura, atacar assim um símbolo do Porto, atacar assim um símbolo do norte é dividir a nossa nação, é contribuir para dividir os portugueses, agravadas pelo facto de se conhecerem medidas mais atenuadas no que respeita a outras instituições, parecendo que esse aligeiramento de medidas se concretiza quanto mais próximas geograficamente do poder central e de Lisboa se encontram essas outras instituições.

Não podemos aceitar esta atitude e não nos podemos calar. Temos de pugnar por um Estado que honre a sua palavra e que cumpra os compromissos que assume.

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto In 4 de Janeiro de 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário