Uma sociedade mais
equilibrada é maioritariamente constituída por uma classe média forte, garante
uma efectiva igualdade de oportunidades para todos, e é acompanhada por um
Estado que actua nas áreas sociais com uma escola pública de qualidade, com um
serviço nacional de saúde de excelência, que reequilibre e redistribua a
riqueza através de uma segurança social exemplar que acompanhe os mais
desfavorecidos, que apoie os desempregados, os doentes e os reformados e
pensionistas que já se encontram com uma idade que os impede de poderem
continuar a trabalhar, e que inclua os excluídos. Acredito que esta será a
sociedade mais justa e pela qual vale sempre a pena lutar. Creio que não
estarei nem sozinho nem que farei parte de uma minoria, e que muitos como eu
também desejam uma sociedade assim, mais justa porque mais equilibrada.
No entanto estamos
inseridos numa sociedade que dá como naturais e que aceita como normais todas
as construções políticas e todos os procedimentos administrativos dos quais
resultam visíveis e crescentes desigualdades sociais, em que poucos concentram
em si uma enorme riqueza, luxo e opulência distanciando-se cada vez mais dos
muitos milhões de pessoas com muito pouco ou que quase nada têm.
Não contestamos publicamente
o facto de as instituições financeiras, nomeadamente os bancos, darem melhores
condições comerciais aos que mais património têm, remunerando com melhores
taxas de juro os depósitos mais altos e onerando mais, cobrando mais comissões
bancárias a quem menos aplicações consegue efectuar. Desta forma os mais ricos
distanciam-se rapidamente dos que menos têm.
Somos levados a
participar e a apostar no jogo mais popular da Europa, que é o Euromilhões, que
duas vezes por semana produz novos euromilionários, num claro movimento
transnacional de concentração de riqueza, em que muitos milhões de pessoas
aplicam algum do seu pouco e parco rendimento disponível para o concentrar todo
num único novo milionário, transferindo num ápice o património de milhões para o
de uma só pessoa.
Aceitamos que sob o
pretexto da abertura da economia que se tenham ‘naturalmente’ transferido do
interior da Europa para outras geografias as seculares indústrias produtivas e
outros conglomerados económicos, com vista ao puro aproveitamento da
mão-de-obra barata, desregulada e desprotegida para enriquecer os donos das
empresas, que hoje não têm uma cara, porque são geralmente grandes fundos
financeiros, resultando num enorme desemprego por toda a Europa.
Assistimos à
passividade dos principais responsáveis políticos que com a sua inacção
procuram manter o rumo deste caminho, classificando-o como o único possível,
mas que nos conduzirá a uma ruptura social de graves consequências.
Os nossos líderes
políticos, líderes sociais ou líderes económicos não têm estado à altura das
necessidades do nosso tempo, mas mais preocupante do que esta constatação é a
de que a sociedade, as pessoas que a compõem, ora se resignaram ora se apenas
manifestam, mas se recusam a agir organizadamente escolhendo os momentos certos
para concretizarem uma verdadeira mudança.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 13 de Dezembro de 2012
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