sábado, 15 de dezembro de 2012

Concentração da Riqueza


Uma sociedade mais equilibrada é maioritariamente constituída por uma classe média forte, garante uma efectiva igualdade de oportunidades para todos, e é acompanhada por um Estado que actua nas áreas sociais com uma escola pública de qualidade, com um serviço nacional de saúde de excelência, que reequilibre e redistribua a riqueza através de uma segurança social exemplar que acompanhe os mais desfavorecidos, que apoie os desempregados, os doentes e os reformados e pensionistas que já se encontram com uma idade que os impede de poderem continuar a trabalhar, e que inclua os excluídos. Acredito que esta será a sociedade mais justa e pela qual vale sempre a pena lutar. Creio que não estarei nem sozinho nem que farei parte de uma minoria, e que muitos como eu também desejam uma sociedade assim, mais justa porque mais equilibrada.

No entanto estamos inseridos numa sociedade que dá como naturais e que aceita como normais todas as construções políticas e todos os procedimentos administrativos dos quais resultam visíveis e crescentes desigualdades sociais, em que poucos concentram em si uma enorme riqueza, luxo e opulência distanciando-se cada vez mais dos muitos milhões de pessoas com muito pouco ou que quase nada têm.

Não contestamos publicamente o facto de as instituições financeiras, nomeadamente os bancos, darem melhores condições comerciais aos que mais património têm, remunerando com melhores taxas de juro os depósitos mais altos e onerando mais, cobrando mais comissões bancárias a quem menos aplicações consegue efectuar. Desta forma os mais ricos distanciam-se rapidamente dos que menos têm.

Somos levados a participar e a apostar no jogo mais popular da Europa, que é o Euromilhões, que duas vezes por semana produz novos euromilionários, num claro movimento transnacional de concentração de riqueza, em que muitos milhões de pessoas aplicam algum do seu pouco e parco rendimento disponível para o concentrar todo num único novo milionário, transferindo num ápice o património de milhões para o de uma só pessoa.

Aceitamos que sob o pretexto da abertura da economia que se tenham ‘naturalmente’ transferido do interior da Europa para outras geografias as seculares indústrias produtivas e outros conglomerados económicos, com vista ao puro aproveitamento da mão-de-obra barata, desregulada e desprotegida para enriquecer os donos das empresas, que hoje não têm uma cara, porque são geralmente grandes fundos financeiros, resultando num enorme desemprego por toda a Europa.

Assistimos à passividade dos principais responsáveis políticos que com a sua inacção procuram manter o rumo deste caminho, classificando-o como o único possível, mas que nos conduzirá a uma ruptura social de graves consequências.

Os nossos líderes políticos, líderes sociais ou líderes económicos não têm estado à altura das necessidades do nosso tempo, mas mais preocupante do que esta constatação é a de que a sociedade, as pessoas que a compõem, ora se resignaram ora se apenas manifestam, mas se recusam a agir organizadamente escolhendo os momentos certos para concretizarem uma verdadeira mudança.

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - In 13 de Dezembro de 2012

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