sábado, 9 de março de 2013

Hugo Bolivariano


Morreu o Presidente da Venezuela. Realizam-se hoje as cerimónias fúnebres, com o país enlutado por 7 dias consecutivos. Hugo Chavez perdeu a batalha contra a doença de que padecia, mas marcou todo o seu tempo de vida, e foi um dos líderes mais impressivos no tabuleiro da geopolítica internacional.

Uns chamavam-lhe populista, outros reconhecem-lhe a forma como soube estar sempre próximo dos venezuelanos, aplicando no país que liderou uma série de políticas que permitiram a diminuição da pobreza que grassava, e pôde contribuir para a reintegração de grandes franjas da população venezuelana, que estavam muito afastadas de qualquer oportunidade de realização social ou profissional.

Hugo Chavez conseguiu combater a hegemonia político-económica norte-americana, fortemente enraizada na América do Sul e Central, mas que conseguiu vergar, não se atemorizando com as ameaças que recebia quando se aproximava de Fidel Castro e de Cuba, demonstrando todo o apoio a este regime cubano.

A sua ligação ao regime cubano era por devoção, mas por vezes tacticamente aliou-se a outros regimes anti-norte-americanos como o regime pré-nuclear Iraniano.

Este desafio permanente aos Estados Unidos, permitiu-lhe ganhar apoios internos e externos. Tanto que outros países vizinhos da América do Sul se foram aproximando e lhe foram mostrando apoio e admiração.

A força política de Chavez não se baseava apenas no apoio popular interno, mas sobretudo nas enormes reservas petrolíferas da Venezuela, e na riqueza gerada pela venda do petróleo nos mercados internacionais, que lhe proporcionaram a independência energética tão fundamental para se ter voz nos palcos políticos internacionais.

A economia venezuelana padece de sustentabilidade, é uma economia muito débil, assente na riqueza que advém do petróleo, e não aproveitou esses ‘bons ventos’, para construir uma indústria naval, para organizar uma frota pesqueira, para formar uma indústria produtiva forte e marcante. A Venezuela apenas assistiu a um grande investimento em infra-estruturas, mas não está preparada para as rentabilizar. Faltam quadros técnicos, profissionais qualificados que possam em várias áreas da economia contribuir para um crescimento económico sustentado, longe das influencias do crude e dos dólars.

Portugal deve querer ter um papel mais influente no futuro da Venezuela e para tal terá de melhorar e estreitar as ligações políticas e económicas com este país. E a Venezuela terá interesse nisso, porque há muitos anos que os venezuelanos reconhecem nos portugueses que para lá emigraram uma grande capacidade de trabalho, um esforço e dedicação a criar riqueza, não só para eles próprios como também para o país onde se instalaram.

Com o desaparecimento deste marcante político, será que também desaparece o seu projecto, que começou na República Bolivariana da Venezuela?

Qual será o resultado das eleições que por imposição constitucional vão ter de se realizar dentro de poucas semanas?

O mundo todo, uma vez mais, vai estar de olhos postos na Venezuela, e assim para já Hugo Chavez continua e continuará a marcar a agenda política mundial.

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - In 8 de Março de 2013