sexta-feira, 6 de junho de 2008

“Write Off”

Há alguns meses, assisti a um interessante ‘debate de ideias’ acerca da necessidade da Região Norte e, nomeadamente do Porto, padecer de um novo ciclo de grandes obras públicas.
Uma vez mais se diagnosticaram as debilidades, as fraquezas, as necessidades que caracterizam actualmente o Porto, e que são umas estruturais, pois repetem-se há longos anos e são de maior dificuldade de resolução e, outras conjunturais, pois estão a ocorrer há menos tempo e são resultado de circunstâncias presentes e extrínsecas à própria região.
Resultou desse debate de ideias que era evidente que um novo ciclo de grandes obras públicas, com a canalização de grandes investimentos públicos, seria fundamental para libertar a Região Norte do seu actual estado económico amorfo.
Houve mesmo um momento em que se reclamava que o ‘Estado’, essa figura tão distante e impessoal, devesse entregar a privados a gestão de um importante equipamento e infra-estrutura de transportes, sem qualquer encargo inicial para a entidade privada que viesse a assumir a gestão desse mesmo equipamento. Afirmou-se até, que era discutível, por poder não ser justificável, o actual estado de modernização desse equipamento, que assim deveria ser entregue, sob concessão, sem contudo onerar em termos de investimento inicial, o grupo privado que ficasse com a responsabilidade de o gerir. A expressão era : “…write off…”
Esta conclusão parecia consensual…
Para mim não era…
Sempre senti o Porto e a Região Norte, como a região da iniciativa privada, do arrojo, do risco, virada para fora, para as exportações. Ser do Norte sempre significou, e ainda significa, ser de uma região de gente de fibra, propensa ao risco. Ser do Porto, significa ser liberal, ser contra o centralismo, ser independente das benesses do poder central do estado, e ser independente do próprio poder, porque a distância à capital assim o exige.
O Porto significa ser berço de grandes grupos económicos, grandes grupos financeiros, que sempre se caracterizaram por serem responsáveis pelo elevado nível de emprego criado, e pela grande capacidade de exportação, fruto de um grande entendimento dos mercados externos (fruto do investimento no conhecimento), e fruto da sagacidade no aproveitamento das vantagens comparativas nesses mesmos mercados.
Ser do Porto, não é apenas ser de uma cidade granítica, austera, sólida. Ser do Porto é ter dentro de si uma forma de sentir diferente, particular, pouco explicável, mas conhecida e partilhada por todos aqueles que nada pretendem de outros, a não ser a igualdade de oportunidades. Na Região Norte não se reclamam subsídios, descontos, ou se esperam por qualquer tipo de benesses, apoios ou outro qualquer tipo de discriminação positiva.
A Norte apenas se aceita ser tratado por igual, com todo o rigor e exigência, não se aceitando de forma alguma qualquer tipo de discriminação negativa.
A exigência é, contudo, elevada !
O Porto e o Norte continuam a reclamar justamente a mesma atenção que outras regiões têm merecido, ao nível da canalização de investimento público. O que nunca deve ocorrer é a alteração da atitude assumida até ao presente por parte dos representantes do Norte, passando a imitar comportamentos que caracterizam quem o poder rodeia, para dele colher ‘bondosas atenções’.
A Norte sempre se foi capaz de protagonizar, através da iniciativa privada, ciclos de desenvolvimento económico sustentáveis, capazes de inverter a natural tendência de menor investimento público.
É esse comportamento que caracteriza a Gestão a Norte, e que é necessário voltar a protagonizar, em domínios vários como o turístico, em que a captação de investimento privado é já visível no sector hoteleiro, embora incipiente noutros.
Gerir a Norte…
…write it down…
…é nunca querer qualquer tipo de “….write off” !

In Jornal de Notícias em 6 de Junho de 2008

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