sexta-feira, 18 de março de 2011

Estado das coisas

Em 14 de Julho de 1789 com a ‘Tomada da Bastilha’ a sociedade francesa levanta-se contra a monarquia que regia mal os seus destinos e promove a mudança do sistema político na França de então. Iniciava-se um processo de democratização que iria ter reflexos em todo o mundo, com a deposição de muitas monarquias ou a adaptação das monarquias a regimes democráticos de base parlamentar que passam a coexistir com governos eleitos pelos cidadãos. O papel dos cidadãos passa a ter um novo significado, e o novo Estado passa a conter no seu código genético a aplicação dos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade dos seus cidadãos plasmados na primeira Constituição Francesa de 1791.
A História deve ser sempre revisitada para nos iluminar os caminhos do nosso futuro.
Estamos perante uma crise política, não porque teremos em breve eleições legislativas, mas porque não conseguimos definir o que pretendemos do que apelidamos de Estado.
Temos todos sentido o Estado a avançar aos soluços, com dificuldades próprias em respirar, e com dificuldades em nos orientar num mesmo percurso, fazendo com que assumamos um objectivo comum a todos.
Em Portugal ainda temos demasiado Estado, mais pelo que deixamos nas suas mãos para a decisão que faz dos nossos destinos. É ao Estado que achamos que cabe a iniciativa, é no Estado que procuramos emprego, é ao Estado que procuramos como cliente das nossas iniciativas empresariais, é no Estado que colocamos todas as culpas quando tudo nos corre mal.
Até agora o papel dos cidadãos foi ficando insignificante e a aquela iniciativa privada totalmente independente do Estado e dele totalmente desligada constitui uma verdadeira excepção.
E o Estado também se acomodou a esse estado de coisas, gostou de ser assim querido, gostou da importância que lhe foram dando, e cresceu, não só no tamanho da sua barriga, mas fundamentalmente na altura do seu pescoço altivo.
O Estado deve refocar-se apenas no essencial que são uma ‘Escola Pública’ que promova a igualdade de oportunidades, um ‘Sistema de Saúde Pública’ que assegure os cuidados de saúde essenciais a toda a população e um ‘Sistema de Segurança Social Pública’ que assegure sobretudo a protecção dos mais fracos e necessitados.
Quero um Estado que cumpra efectivamente o seu papel de redistribuidor da riqueza, que não seja o principal empregador, que não seja o principal cliente de bancos, e que não seja o principal cliente de empresas.
É este o Estado que quero, é este o Estado que defendo, é por este Estado que estou disposto a lutar como cidadão.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pessimismo, Realismo, Optimismo

Perante um ano difícil, cada um de nós tende a preparar-se para o enfrentar de uma forma diametralmente diferente dos outros.

Os pessimistas vêm tudo ‘pintado de negro’ à sua frente, sem qualquer perspectiva de solução positiva, independentemente do tema, seja na vida pessoal, seja na actividade profissional. Para estes mais vale estar quieto, quedo, parado no lugar que já ocupa. Afirmam que devem é minimizar as perdas que se avizinham, e se para tal o melhor é parar, então essa é uma forma de garantir que pelo menos ficam com o que já têm. Nunca ousar, sequer pensar em dar um passo, apenas evitar danos maiores, pois alguns serão decerto uma certeza.

Os realistas, fazem uma sucessão de diagnósticos correctíssimos acerca do contexto social, económico, político e até ambiental. Explicam de forma exaustiva o que se está a passar e são detalhados na explicação das possíveis causas para o que ocorreu. Têm absoluta necessidade de tudo conhecerem e saberem, para estarem certos do que de facto está a acontecer. São os que não aceitam dar um passo, não sem antes saberem com toda a certeza do mundo, usando de todos os instrumentos possíveis e conhecidos, qual a realidade que os envolve.

Os Optimistas acham que tudo não passa de uma fase menos boa, que vai demorar pouco tempo a passar afirmando mesmo que no final do ano, vamos vislumbrar já sinais de crescimento económico e de retoma da actividade. Para estes um novo ano é sinal de novos tempos, de novas oportunidades, de esperanças redobradas, de caminhos novos que poderão ser iniciados. Dão passos determinados, mesmo que sejam sem direcção certa. Para eles dar passos é o fundamento da sua existência.

Qualquer uma destas atitudes é legítima, são elas resultado da aprendizagem e de tudo o que nos circunstanciou, esculpindo e moldando ao longo dos anos a nossa personalidade e nosso carácter.

No entanto, nenhuma destas formas de enfrentar o futuro deve ser absoluta.
Não devemos é temer o nosso futuro, porque dele não podemos fugir, e o que o determina são as nossas acções ou omissões. Por vezes, fazer algo é a melhor opção, e outras nada fazer também o é. Nunca assumir uma ou outra postura para todo o sempre, insistindo na imutabilidade da decisão tomada, por simples teimosia, ou crença absoluta da certeza da opção tomada.
Não há receita perfeita, devemos é contribuir para que o futuro seja mais justo, solidário, equilibrado, honesto, fraterno e sustentável, tanto para os que hoje cá estão, como para os que, no nosso futuro, viverão o seu presente.

In Semanário Grande Porto em 4 de Março de 2011