Portugal é tão importante para a Europa como a Europa é importante para Portugal. Há um equilíbrio quase perfeito na importância que cada um destes espaços políticos e económicos tem relativamente ao outro.
A Europa encontra-se perante um ciclo de estagnação económica e sob uma clara crise financeira de dimensão nunca antes ocorrida. A possibilidade de conseguir encontrar soluções internas ao seu próprio espaço para os dois problemas é muito limitada. Enquanto que no caso da crise financeira e da moeda única a solução radica fundamentalmente em decisões políticas próprias, que tardam em ser tomadas, a resolução da crise de crescimento económico só produzirá resultados com o efectivo aproveitamento da actual fase de acentuado crescimento económico dos países emergentes localizados maioritariamente no hemisfério sul.
O nosso país, devido à sua excelente localização geográfica apresenta-se como uma porta de entrada e saída perfeitas para as ligações comerciais entre a Europa e o resto do mundo. É um rectângulo logístico central exemplar para todos os países europeus utilizarem no alcance de outros continentes, e é uma plataforma incomparavelmente adequada para uma primeira instalação dos agentes económicos originários dos países de fora da Europa que nela quiserem entrar.
A predominância da língua portuguesa no hemisfério sul, disseminada pelos vários continentes, desde a América do Sul, a África, e pontualmente pela cada vez mais liderante Ásia permite a Portugal ser um interlocutor perfeito com os países deste hemisfério. A lusofonia apresenta-se assim como facilitadora das relações comerciais e económicas entre a Europa e todo o hemisfério sul.
A relação histórica que une Portugal às suas antigas colónias e a forma como Portugal sempre soube integrar, e não explorar, as riquezas naturais desses territórios, deixando a sua marca, a sua língua, património, história, não hostilizando os povos nativos dos novos territórios onde se instalava, trocando benefícios com eles, leva a que sejamos bem considerados nas relações que ainda hoje temos com esses povos em todo o mundo.
O papel de Portugal, fruto da atitude e do grau de compromisso que os seus mais altos responsáveis têm tido na sua participação em diversos projectos de vários organismos da ONU, quer no apoio aos refugiados, quer na sua participação em forças de pacificação ou de manutenção de paz, ou ainda no estabelecimento de condições seguras de transporte e circulação marítima no Oceano Índico, e ainda o papel preponderante e decisivo no apoio à autonomia de Timor Leste leva a que haja um grande reconhecimento internacional do nosso país.
Portugal tem já e terá cada vez mais um papel fundamental como embaixador político mas sobretudo como intermediário económico, papel esse tão necessário a toda a União Europeia, cimentando e aprofundando as relações económicas, comerciais e financeiras com as novas economias emergentes, que serão as economias liderantes no contexto mundial, num muito curto prazo.
Rui Saraiva
GestorPublicado In Semanário GRANDE PORTO - em 30 Dezembro de 2011