A história do nosso país está repleta de inúmeros episódios de sucessivos encontros com as dificuldades e de enorme obscuridade e muita incerteza sobre o futuro, mas que permitiram que ao longo dos tempos conseguíssemos moldar o nosso código genético adicionando-lhe uma capacidade de resistência e mesmo de resiliência perante as adversidades.
Desde logo as dificuldades sentidas na formação da nossa nacionalidade, que até ficou conhecida pela disputa e posterior guerra entre um filho, nosso fundador, e a sua mãe.
Seguiram-se os obstáculos decorrentes da necessidade de conquista de mais território, alargando para sul um pequeno condado, rechaçando os invasores do norte de África, esses povos mouros que saindo derrotados nos deixaram as suas marcas na nossa língua, na nossa arquitectura e em muitas outras áreas do saber.
Passou-se então à afirmação da nossa independência face à vontade dos nossos vizinhos de Castela e Leão, povo que não se contentou nunca com o facto de não ser também dono deste pedaço de terra, que o impedia de alcançar mais livremente o Atlântico.
Aprisionados no nosso próprio país, voltando as costas à restante ibéria, quisemos descobrir o mundo do além-mar, seguindo imprudentemente as estrelas, trilhando novas rotas e desenhando pela primeira vez os mapas do nosso mundo. Pioneiros, aventureiros, e destemidos passamos o Bojador e as Tormentas que soubemos transformar em Boa Esperança, para que depois todos os povos europeus pudessem nessas novas rotas marítimas estabelecer os novos caminhos para as trocas comerciais com o Oriente.
Tudo isto apesar dos sempre velhos do Restelo que, assistindo à partida dos navios com destino incerto, malfadavam os seus percursos.
Com os nossos irmãos de Espanha dividimos o mundo, após termos sido os conquistadores, os descobridores e os responsáveis pela descoberta da sua total plenitude e dimensão. Afirmação o nosso domínio geo-político, e soubemos criar laços de sangue e língua com os mais longínquos povos.
Desaproveitamos e gastamos rapidamente as riquezas obtidas com esse domínio até perdermos o império para os Holandeses e Ingleses.
Integramos a Europa e também desaproveitamos e gastamos rapidamente as remessas que dela recebemos.
Ciclicamente metemo-nos em sarilhos. Estamos sempre a voltar a estar perante grandes tormentas. Parece que estamos destinados a passar dificuldades, e parece mesmo que gostamos do desafio de ter de as ultrapassar.
Será que nos tornamos num povo especialista em ultrapassar as desgraças em que nos metemos? Será esse o nosso fado?
Não terá sido apenas uma coincidência o facto de só agora a UNESCO ter reconhecido o Fado português como Património Imaterial da Humanidade. Espero que os portugueses possam aproveitar este facto para reflectir um pouco e possam decidir ser mais activos e mais participativos na definição e orientação do seu próprio destino, aprendendo finalmente com a sua própria história, não cometendo no futuro os erros do seu passado.
Rui Saraiva
Gestor
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