Inicio este ano de 2012 por querer afirmar tudo aquilo em que estou em total desacordo. Esta minha manifestação pública de discordância com muitas situações e com muitos factos é também uma forma de mostrar qual o caminho que eu pessoalmente defendo dever ser trilhado.
Começo por manifestar o meu desacordo com o facto de Portugal parecer estar, querer estar, ou mesmo estar numa posição vendedora de algumas ou de todas as suas redes de infra-estruturas fundamentais, sejam elas a REN (rede de distribuição de energia eléctrica), a ADP (rede de distribuição de água), a EP (rede nacional de estradas, itinerários e auto-estradas), a ANA (plataformas aeroportuárias), ou mesmo a REFER (rede de infra-estruturas ferroviárias). Por outro lado sou favorável à alienação parcial ou total dos operadores nestes mercados, ou à concessão das suas actividades, desde que devidamente reguladas por reguladores isentos, independentes, equidistantes, capazes, e dotados dos recursos indispensáveis para realizar a fiscalização das actividades dos diversos operadores em cada mercado.
Contesto também a forma como se não cumpre a nossa lei fundamental que é a Constituição da República Portuguesa, na falta de equidade na repartição dos sacrifícios que deviam ser exigidos a todos os portugueses, mas que o são apenas a uma parte da população. Sem aprofundar este tema só quero acrescentar que não concordo que o principal defensor desta lei fundamental, que prestou juramento público na sua defesa, se alheie deste assunto.
Não concordo que se continue a chamar taxas moderadoras aos reais preços praticados na utilização que os portugueses fazem do Serviço Nacional de Saúde. Estamos cada vez mais perante uma efectiva tabela de preços de serviços médicos, que representa nova forma de financiamento do SNS e não estamos já apenas a procurar moderar o acesso.
Não estou de acordo que a pretexto da austeridade se acentue a centralização de responsabilidades, de decisões e de serviços na região de Lisboa, tratando de forma desigual o país, comprometendo a sustentabilidade futura de todo o restante território nacional.
Estou contra a não limitação dos juros a pagar à banca. Não concordo que não se decida aplicar uma taxa a todas as transacções financeiras intra-união europeia e inter-regiões Europa/América/Ásia. Não concordo que o BCE não possa comprar dívida dos países em maiores dificuldades directamente nos mercados primários. Não concordo que o BCE não possa emitir Obrigações Europeias com rating resultante da avaliação do risco ponderado de toda a zona euro.
Discordo que se brinquem com variáveis de mercado, como o facto de se estarem a determinar em simultâneo subidas de preços de diversos serviços do Estado e reduções desses mesmos serviços, achando que a procura se comportará de forma inelástica.
Finalmente, não concordo com o novo acordo ortográfico e, como tal manter-me-ei, até ao prazo legal limite, a escrever os meus textos pessoais e artigos de opinião de acordo com a antiga ortografia, fazendo a alteração só e quando assim fôr de facto obrigado.
Rui Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - Sexta-feira 13 de Janeiro de 2012
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