A Europa vive uma crise económica e
financeira profunda e duradoura, que deriva em primeiro lugar e
fundamentalmente da falta de entendimento comum dos governos europeus sobre
qual a solução global a adoptar por todos, e pela visível falta de uma estratégia
económica e financeira consertada e aplicada em simultâneo em toda a Europa.
Não vislumbramos ainda a
possibilidade de construção de uma qualquer resposta com dimensão ou escala
capaz de contrariar o actual momento ou de o resolver. Apenas se estão a
conhecer medidas paliativas, que são aplicadas muito demoradamente e que apenas
tentam adormecer a dor, mas que aprofundam a doença de que a Europa padece.
A falta de uma resposta concertada
por todos os países membros da união monetária, tem levado a uma crescente
divisão dos europeus. Os países do norte vão-se afastando dos países do sul e
da orla periférica mediterrânica, que se estão a arrastar economicamente e que
estão a ficar cada vez mais financeiramente débeis e fragilizados, empobrecendo,
e estão a ficar cada vez mais dependentes dos países financeiramente mais
fortes do norte.
Este enfraquecimento sucessivo dos
países e dos povos do sul da Europa parece uma consequência da inacção
económica e da falta de estratégia comum, mas começam a parecer sobretudo um
objectivo em si mesmo.
Conseguimos todos concluir que o
bloco do norte da Europa conseguirá mais facilmente impor regras, restrições e
condições ao bloco do sul da Europa, quando mais debilitado e financeiramente
dependente este se encontrar.
Assim se passa entre os países da
nossa Europa, e também assim se passa no seio dos próprios países. Os governos
do sul da Europa que estão aplicar esta mesma receita, como é o caso de
Portugal, estão a empobrecer os seus povos, debilitando-os, e tornando-os cada
vez mais dependentes da vontade e dos ditames dos governos.
Este paulatino empobrecimento,
debilidade crescente e dependência gradual torna as populações mais frágeis e
sem qualquer capacidade reivindicativa. Assim os governos pensam que terão o
caminho livre para aplicarem as suas reformas sem oposição, sem resistência,
sem obstáculos.
É um caminho muito perigoso pois há
um limite, uma linha a partir da qual um povo oprimido se rebela, e nessa
revolta extrema as suas posições, podendo em desespero tomar em mãos medidas
radicais e potencialmente beligerantes.
Bem se percebe o porquê da
atribuição do Nobel da Paz à União Europeia (EU). É o melhor reconhecimento
internacional do papel da UE na estabilização da Europa no pós-Segunda Guerra
Mundial, conseguida sobretudo pelas medidas que permitiram o desenvolvimento
económico dos países europeus, atenuando as diferenças entre os seus povos,
conquistando a capacidade de acesso a habitação condigna, educação, saúde,
segurança social, e bem-estar, assente na solidariedade entre os europeus,
cimentando a igualdade, a fraternidade e a liberdade.
Rui Saraiva
Gestor
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