sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Opressão Orçamental


A Europa vive uma crise económica e financeira profunda e duradoura, que deriva em primeiro lugar e fundamentalmente da falta de entendimento comum dos governos europeus sobre qual a solução global a adoptar por todos, e pela visível falta de uma estratégia económica e financeira consertada e aplicada em simultâneo em toda a Europa.

Não vislumbramos ainda a possibilidade de construção de uma qualquer resposta com dimensão ou escala capaz de contrariar o actual momento ou de o resolver. Apenas se estão a conhecer medidas paliativas, que são aplicadas muito demoradamente e que apenas tentam adormecer a dor, mas que aprofundam a doença de que a Europa padece.

A falta de uma resposta concertada por todos os países membros da união monetária, tem levado a uma crescente divisão dos europeus. Os países do norte vão-se afastando dos países do sul e da orla periférica mediterrânica, que se estão a arrastar economicamente e que estão a ficar cada vez mais financeiramente débeis e fragilizados, empobrecendo, e estão a ficar cada vez mais dependentes dos países financeiramente mais fortes do norte.

Este enfraquecimento sucessivo dos países e dos povos do sul da Europa parece uma consequência da inacção económica e da falta de estratégia comum, mas começam a parecer sobretudo um objectivo em si mesmo.

Conseguimos todos concluir que o bloco do norte da Europa conseguirá mais facilmente impor regras, restrições e condições ao bloco do sul da Europa, quando mais debilitado e financeiramente dependente este se encontrar.

Assim se passa entre os países da nossa Europa, e também assim se passa no seio dos próprios países. Os governos do sul da Europa que estão aplicar esta mesma receita, como é o caso de Portugal, estão a empobrecer os seus povos, debilitando-os, e tornando-os cada vez mais dependentes da vontade e dos ditames dos governos.

Este paulatino empobrecimento, debilidade crescente e dependência gradual torna as populações mais frágeis e sem qualquer capacidade reivindicativa. Assim os governos pensam que terão o caminho livre para aplicarem as suas reformas sem oposição, sem resistência, sem obstáculos.

É um caminho muito perigoso pois há um limite, uma linha a partir da qual um povo oprimido se rebela, e nessa revolta extrema as suas posições, podendo em desespero tomar em mãos medidas radicais e potencialmente beligerantes.

Bem se percebe o porquê da atribuição do Nobel da Paz à União Europeia (EU). É o melhor reconhecimento internacional do papel da UE na estabilização da Europa no pós-Segunda Guerra Mundial, conseguida sobretudo pelas medidas que permitiram o desenvolvimento económico dos países europeus, atenuando as diferenças entre os seus povos, conquistando a capacidade de acesso a habitação condigna, educação, saúde, segurança social, e bem-estar, assente na solidariedade entre os europeus, cimentando a igualdade, a fraternidade e a liberdade.

Rui Saraiva
Gestor

Publicado In Semanário Grande Porto - In 2 de Novembro de 2012

 

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