Na semana passada fomos
todos surpreendidos e abalados com o anúncio público das primeiras medidas que
estavam a ser defendidas para ‘salvar’ o Chipre da bancarrota.
Este conhecimento
público fez tremer não só a Europa, como também o mundo inteiro. Até os
mercados financeiros viram repentinamente afundar as cotações dos activos
financeiros em todas as principais praças europeias e bolsas mundiais.
Acabávamos de conhecer
as intenções de serem taxados todos os depósitos bancários colocados em contas
nos bancos cipriotas, numa dimensão situada entre os 20% e os 40% para pagar o
resgate do Chipre e salvar os seus bancos.
Estas notícias
significaram a ‘morte’ do pilar fundamental e mais importante do sistema
financeiro e bancário, que é o princípio da confiança.Este fundamental princípio em que assenta o sistema financeiro e bancário em todo o mundo, baseia-se no facto dos depositantes acreditarem na segurança das suas aplicações e na boa gestão que as entidades bancárias e financeiras delas fazem. Essa confiança é a base das transacções e das aplicações financeiras em todo o mundo e foi a base da substituição das trocas directas pelas trocas monetárias, e posteriormente o fundamento das aplicações e movimentações financeiras desmaterializadas, ou seja, sem dinheiro à vista.
Após a forte reacção
negativa de todos e com uma forte oposição da opinião pública local e europeia,
amorteceu-se o anúncio de duas formas.
A primeira, com a
negação da autoria destas funestas intenções e medidas. Percebemos então que
foi uma ideia de que ninguém quis assumir a paternidade. A Comissão Europeia
virou as costas. O FMI recusou a iniciativa. A Alemanha assobiou para o lado.
Todos apontaram o dedo para o infinito.A segunda com as subsequentes notícias de que o Chipre era uma ‘economia de casino’, e que funcionava como um autêntico paraíso fiscal, onde até os magnatas russos refugiavam as suas avultadas fortunas obtidas de formas muito pouco transparentes. Avolumou-se um conjunto de declarações contra este estado de coisas, concluindo que o Chipre tinha de ‘pagar’ pela sua irresponsabilidade.
Estávamos numa nova fase, no início de uma reformulação das medidas anteriormente órfãs. Passou-se então a pretender publicamente apenas a tributação em 20% dos depósitos acima dos 100 mil euros.
No seio da Europa há já quem esteja a defender o alargamento e a extensão deste tipo de medidas a outros países europeus em dificuldades.
Podemos estar perante o
início do colapso mundial de todo o edifício bancário e de todo o sistema
financeiro, com consequências imprevisíveis em toda a actividade económica, que
poderá sofrer um repentino apagão, tendo como ponto de partida a Europa, que
deriva da irresponsabilidade dos líderes políticos e financeiros europeus.
Está definitivamente
instalada no seio de todos os lares europeus a desconfiança e ninguém agora
consegue afirmar de forma peremptória que os seus depósitos estão imunes a um
possível futuro confisco, seja ele parcial ou total.
Esta nova realidade
provocará de imediato uma imensa deslocalização e mesmo a fuga de capitais da
Europa para outros destinos, sejam eles ou não paraísos fiscais. Será enorme a
vontade de transformar as poupanças bancárias em bens de elevado valor, mas
ainda facilmente transaccionáveis e de longa duração. Haverá um gigantesco
movimento para levantar os depósitos e para guardar ‘as notas’ debaixo do
colchão.
Outros espaços
económicos mundiais olham para o que está a ocorrer na Europa e têm toda a
razão se afirmarem que os líderes europeus só ‘podem estar loucos’.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 29 de Março de 2013
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