Hoje ninguém se lembra
quem começou os primeiros ataques entre os cidadãos sírios. Hoje ninguém
consegue distinguir correctamente quem agiu belicosamente e quem reagiu também
de forma tempestiva às primeiras refregas. Já não é mais importante saber quem
deu o primeiro tiro, se foi o Governo ou as suas forças armadas, ou se foram os
membros da oposição e as milícias rebeldes que a apoia.
O que hoje importa é
que esta escalada de violência tem sido mostrada ao mundo através de imagens de
enorme horror. As imagens mostram um gigantesco sofrimento dos dois lados dos
contendores.
Como é que um povo se
pode dividir desta forma?
As várias religiões presentes
nesta região e as diferentes etnias não podem ser a explicação. Não podemos
aceitar, ninguém pode aceitar uma qualquer justificação para os actos de
verdadeiro terror cometidos na Síria, contra populações inocentes, que tendo opinião
e apoiando um dos lados não se encontram em confronto.
O corolário deste
cenário dantesco ocorreu no final do passado mês de Agosto quando nos chegaram
ao conhecimento relatos e imagens de centenas e mesmo milhares de pessoas que
tinham morrido ou ficado seriamente afectadas após ataques aparentemente
perpetrados com armas químicas.
Foi o necessário para a
comunidade internacional acordar para estes massacres. Com os Estados Unidos a
encabeçarem os protestos, quer no seio das Nações Unidas quer na Cimeira do
G20, acompanhados por uma França arrojada e por uma tímida Inglaterra.
Estavam já a ser
preparados os pormenores finais de um ataque militar americano a objectivos
estratégicos na Síria, com vista à eliminação dos alvos militares que pudessem
representar novas futuras ameaças de novos ataques com armas químicas.
A Rússia, que apoia
estrategicamente o Governo Sírio, por representar uma zona tampão dos
interesses ocidentais e americanos, veio interpor-se a esta vontade, fechando o
Conselho de Segurança na Nações Unidas à vontade de uma posição da Comunidade
Internacional que pudesse apoiar uma intervenção militar em grande escala com
invasão territorial.
Os princípios que devem
ser defendidos são claros, as armas químicas nunca deverão ser utilizadas
contra populações indefesas, e não devem nem podem ser utilizadas para
aniquilar oposições políticas a regimes políticos, sejam eles legítimos ou
ditatoriais.
Os Estados Unidos,
ainda apoiados por muitos países mantêm a ameaça de guerra à Síria sem ‘botas
no chão’, mas abrem a porta à possibilidade de não atacarem se for concretizada
a hipótese de controlo pela Comunidade Internacional do arsenal de armas
químicas sírio, com a sua posterior destruição, anulando assim a ameaça de novas
utilizações.
Nenhum outro interesse
estratégico, económico, militar, energético se pode sobrepor à defesa
intransigente da dignidade do ser humano e do respeito pela vida humana.
A Comunidade
internacional tem de agir rapidamente e com toda a veemência para fazer da
Síria um exemplo para todo o Mundo, em primeiro lugar para que não ocorram
noutras geografias outros cenários de verdadeiro inferno e desprezo pela vida
humana, mas principalmente para defender a própria Síria e o seu Povo da sua
auto-destruição.
Rui
Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - In 13 de Setembro de 2013