A proposta do Governo para o
Orçamento de Estado para 2014 é um grande acto cénico que encerra vários
objetivos em si mesmo.
Mais do que um gesto teatral que
visa sobretudo tentar manter uma imagem de credibilidade para quem nos observa
de fora, é um duro golpe para todos os portugueses.É uma derrota para o Governo em primeiro lugar. É uma derrota de Portugal em segundo lugar. É por último uma derrota para todos os portugueses.
Depois de todos os sacrifícios que nos têm sido infligidos, depois de toda a enorme austeridade que tem sido imposta à nossa economia, depois de todos os flagelos sociais de que muitas franjas da nossa população têm sido alvo, os objetivos propostos não têm sido atingidos.
O Governo falhou sucessivamente os
resultados que nos foram apresentados como fundamentais para justificar as
medidas que nos foram impostas. As receitas não deram frutos, não estão a curar
o país da sua principal doença. Apesar do insucesso, há a persistência nos
caminhos adotados.
Os métodos adotados para a nossa
cura estão a matar o país, empobrecendo a população e enfraquecendo a economia,
destruindo a confiança no futuro, desarticulando o Estado, que se encontra em
situação de quase pré-falência, fechando aos poucos os seus serviços e
reduzindo paulatinamente o seu papel.
O Governo comporta-se como um
administrador de insolvência, assumindo cada vez mais incapacidade de se
mostrar capaz de nos salvar.
Prometeram-nos que iriamos voltar
aos mercados (em Setembro passado). Não foi verdade. Prometeram que o país iria
voltar a ter crédito dos financiadores que assim voltariam a investir em
Portugal. Mas os juros subiram na razão direta da nossa falta de credibilidade.
E assim, também aqui falharam.
Ora, como a promessa não se
concretizou e, em 2014, teremos forçosamente de ter condições para voltar a
obter financiamento externo, mas com os mercados fechados na sua vontade de nos
voltarem a emprestar dinheiro em voluptuosos montantes, era necessário um passe
de mágico.
Construiu-se então este Orçamento
Cautelar, com vista a evitar o cenário mais que provável de um 2º resgate,
tentando obter as condições para que as entidades europeias e financeiras
mundiais, as mesmíssimas que nos resgataram em 2011, voltem a estar connosco,
salvando-nos (mas de outra forma e com outro nome).
Mas a forma encontrada é infeliz.
Assenta na construção de um
documento de ilusão porque se propõe atingir metas cujas medidas propostas para
atingir esses objetivos ou não são suficientes, ou não são baseados em cenários
com grandes probabilidades de concretização.
Assenta num documento que contempla
várias normas que contrariam uma vez mais os nossos princípios constitucionais,
e portanto é ele próprio o primeiro arremesso de um futuro novo confronto com o
Tribunal Constitucional.
Assenta num documento do qual muito
provavelmente poderá resultar uma crise política, de cujas responsabilidades o
Governo poderá tentar escapar, mas de cujas consequências todos teremos de
suportar.
Rui SaraivaGestor
Publicado In Semanário Grande Porto - In 25 de Outubro de 2013
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