Desde o início deste ano, assistimos pela Comunicação Social a notícias que davam conta da intervenção do Banco Central Europeu e de alguns bancos centrais nacionais com a compra nos mercados secundários de dívida soberana dos países mais frágeis ou mais expostos, numa tentativa (diziam os ‘especialistas’) de aliviar a pressão dos mercados. Estas intervenções foram aplaudidas por todos, pelos governos dos países, pelos bancos comerciais, pelos agentes económicos. Ninguém falhou no aplauso público.
Mas o que é que se passou de facto ?
Muitos ‘Fundos de Investimento’ aproveitaram essa intervenção para vender à Segunda-feira no mercado secundário (mercado de transacção) dívida soberana de determinados países, dívida essa que esses ‘fundos de investimento’ tinham tomado (adquirido) no passado e pela qual recebiam juros abaixo de 4%, libertando dessa forma capital, para com ele recomprarem à Quarta-feira, no mercado primário (mercado de emissão) dívida soberana desses mesmos países, mas pela qual recebiam agora ‘firme’ juros que chegaram aos 7%.
Há um conceito financeiro que serve para caracterizar estes movimentos : é o conceito da ‘arbitragem’, ou seja, o aproveitamento da diferença de preços entre mercados diferentes, que permitem que um agente económico possa comprar num mercado para vender noutro mercado o mesmo produto na mesma quantidade e com isso ganhar dinheiro.
Neste caso, foi vender ‘dívida soberana’ num mercado para comprar ‘dívida soberana’ noutro mercado e ganhar muito dinheiro com isso.
E foi ‘isto’ que aconteceu!
E ‘isto’ é muito grave, ora não estivéssemos a falar que serão sempre os nossos impostos a pagar esta brincadeira dos agentes (neste caso fundos de investimento), agravada pelo facto de a ‘Procura’ num desses mercados ser de instituições financeiras centrais/públicas que dependem também elas dos nossos contributos, e da ‘Oferta’ no outro mercado ser de governos que dependem de impostos para pagar os juros e o reembolso dessas emissões.
Não fosse já o bastante estarmos numa profunda crise, mas o que está a ocorrer agrava a crise em que nos encontramos.
Para além de outros argumentos, é pela ocorrência destes factos atrás relatados que sou fervorosamente a favor da emissão de dívida europeia, pelo Banco Central Europeu, com subsequente empréstimo do capital que resultar dessas emissões para os países do Euro mais necessitados.
Mas esse ‘envelope financeiro’ deve ser devidamente acompanhado de regras rigorosas, com o devido detalhe e que devem ser cumpridas de forma escrupulosa, e cujo grau de cumprimento deve ser verificado e acompanhado em contínuo, de forma muito fina, diária, mensal, trimestral, sob pena da retirada do poder de decisão económico e financeiro ao país incumpridor.
Essa sim deve ser, para salvaguarda do nosso futuro, a desejável nova intervenção central !In Jornal de Notícias em 13 de Fevereiro de 2011
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