Na economia os períodos de crise são sempre fases de ajustamento, reorganização do tecido económico e empresarial e de renovação dos seus agentes.
Durante a crise os agentes económicos mais débeis tendem a desaparecer e os mais fortes a solidificar posições. Por vezes, ocorre a absorção pelos agentes económicos maiores e mais bem preparados, daqueles que estão numa posição mais frágil e que por via da crise não lhe resistem.
O desaparecimento de uns e a absorção de outros permite aos agentes económicos maiores, mais sólidos ou mais competitivos ganhar quota de mercado nos sectores onde intervêm. Há assim, no fim da crise um fortalecimento dos que ‘resistiram à tempestade’.
A economia torna-se mais sólida, mais robusta, e por consequência mais preparada para aproveitar os períodos de crescimento que se lhe seguem.
Na economia para existirem bons ciclos de crescimento é fundamental que existam períodos de crise. Sem elas, perpetuaria a existência de agentes económicos mais impreparados, menos sólidos, que muitas vezes sobrevivem à custa de vantagens competitivas irreais, não sustentáveis a médio e longo prazo.
Mas as crises, para além do que atrás mencionei, são também oportunidades para fazer o que deve ser feito. A crise obriga a tomar as decisões correctas.
Qualquer decisor tem dificuldade em tomar decisões difíceis, só quando perante a inevitabilidade de as ter de tomar, ou a quase obrigação é que as toma.
Um empreendedor que cria uma empresa ou se lança num negócio que corre mal, apesar de indicadores que revelam claramente o insucesso da sua ‘criação’, quase nunca decide por si a morte do seu ‘filho’. Tem de existir uma quase obrigação para que um empreendedor decida o fim da sua iniciativa.
Se em Portugal o empreendedorismo é difícil, é-o essencialmente por isto. A dificuldade de criar empresas, de criar produtos, ou de lançar negócios está na dificuldade da resposta à pergunta seguinte: “… e se correr mal?”.
Nos países anglo-saxónicos está desde há muito tempo enraizado o hábito de criar e de destruir empresas, negócios e iniciativas empresariais.
Eu sou um fervoroso adepto da cultura da “destruição criadora”, conceito de gestão pouco concretizado na cultura empresarial portuguesa. Devemos todos apreender este conceito e aplicá-lo para um maior desenvolvimento da economia e para alcançarmos um maior número de novas empresas criadas.
Não mais existirá o facilitismo dos últimos anos, com taxas de juro baixíssimas, em que as empresas portuguesas excederam em muito o limite razoável para alavancarem com endividamento os seus negócios, mantendo artificialmente ‘vivas’ as suas criações.
Nas empresas é preciso saber quando ‘desligar a máquina’, fazer um ‘luto’ rápido, e encetar novas iniciativas e criações.In Público 17 de Fevereiro de 2011
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