sexta-feira, 29 de julho de 2011

Uma Nova Europa

Europa, velho continente que no decorrer da sua longa história, foi palco de mudanças múltiplas e diversas, palco de guerras, umas ‘Santas’, outras ‘Grandes’ e outras ‘Frias’, de conquistas e de reconquistas, com ‘cortinas de ferro’ e ‘muros’ de separação, território de ‘inquisição’ mas também de ‘liberdade’, de ‘descoberta’ e ‘iluminismo’, mas também de ‘sombras’ recusa de ‘novos pensamentos’, continente de ‘temerários descobridores’ e de refundada ‘cultura’, mas também de ‘perseguição’ e tentativa de ‘eliminação da diversidade’.
Esta Europa será capaz, uma vez mais, de se reinventar e de definir o seu caminho. A sua força reside no seu passado e na diversidade que sempre soube integrar. Esta Europa superará os tempos presentes difíceis em que vive e saberá ser novamente uma referência para o resto do mundo.
Esta Europa vive hoje um novo grande desafio, faltando-lhe saber reencontrar-se e perceber o que quer ser no seu futuro. A crise da dívida soberana, a crise do euro, a crise financeira e orçamental dos países europeus só pode ser ultrapassada de forma conjunta, aglutinando todos os países num mesmo percurso.
O caminho que melhor vislumbro ser percorrido contempla a governação económico-financeira conjunta, com a criação de mecanismos que permitam ao Banco Central Europeu a emissão de dívida para todo o espaço dos países do euro, que alguns apelidam de ‘eurobonds’.
Este movimento permitiria num primeiro momento ‘trocar’ a dívida antiga de cada país por uma parte da nova dívida da Europa, ‘dinheiro novo’, com novas maturidades, e novas condições financeiras associadas. Esse ‘dinheiro novo’ seria canalizado para cada um dos países, mas devidamente acompanhado de condições detalhadas e quantificadas e metas temporais que deveriam ser cumpridas por cada um desses países, sob a devida vigilância da nova governação económica e financeira conjunta.
O risco dessa dívida europeia (‘rating’) seria o risco resultante da soma ponderada dos riscos de todos os países do eurogrupo.
Também defendo que deveria ser criada uma agência de rating europeia, mas ao contrário de todas as opiniões que até hoje conheço, defendo que esta agência se deveria apenas ocupar em analisar os riscos dos demais países, que estão fora do próprio espaço.
Depois defendo que deveria haver uma desvalorização substancial do euro, com uma significativa emissão de moeda, tendo em vista à melhoria da competividade económica da Europa face a outros espaços como os Estados Unidos, a China, o Japão, o Brasil ou mesmo a Índia.  
Há ainda quem acredite na Europa…

Rui Saraiva
Gestor

publicado no Semanário Grande Porto - In 29 de Julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Assino o que penso

Há regras que gosto de quebrar…
Defendem alguns que há uma regra de ouro que devemos respeitar. É a regra de não nos prejudicarmos a nós mesmos. Esta regra está até transcrita num popular ditado português que profetiza que “pela boca morre o peixe”. Essa regra institui que devemos saber falar apenas quando nos for conveniente. Defende que devemos “pensar no que dizemos e não dizer o que pensamos”. Argumentam que, se quem nos estiver a ouvir não gostar do que tivermos para dizer, então que devemos manter-nos em silêncio.
A estes respondo que independentemente das consequências, perante um erro, perante uma injustiça falo, digo o que penso. Acredito que as consequências nunca serão verdadeiramente más quando estamos a defender convictamente valores, ideais e princípios em que profundamente acreditamos.
Outra regra que alguns também defendem, diz que a natureza é sábia, e que devemos saber ouvir em dobro do que devemos falar.
A esses respondo que a natureza de facto é sábia, e mesmo que devemos saber ouvir para aprender e apreender, crescendo com essa escuta atenta. Mas também respondo que se estivermos atentos ao pormenor, verificamos que a natureza foi cautelosa, porque nos colocou os ouvidos de lados opostos. E que esse pormenor não foi decerto para que pudéssemos ouvir duas vezes a mesma versão dos mesmos factos, mas sim para que possamos ouvir versões diferentes, se possível contrárias, sobre os mesmos assuntos, para depois concluirmos por nós e construirmos as nossas próprias opiniões acerca desses temas.
Finalmente, uma outra regra que gosto de quebrar é aquela que defende que perante temas delicados, que devemos limitar a nossa própria exposição, tentando sempre arranjar alguém que fale por nós, para que possamos ter espaço para a contradizer, apesar de a termos previamente instruído, se as reacções ao que disse forem demasiado severas.
Não analisarei neste texto o carácter dos que assim procedem, apesar de nas entrelinhas ficar evidente o que deles penso.
Devemos ter a coragem de não colocar outros a falar por nós, e de não esconder a mão após o arremesso da pedra. Sejam quais forem as consequências devemos assumir a responsabilidade e a autoria pelas nossas opiniões ou acções. A verdade, por muito custosa que possa ser, até para nós, deve ser sempre contada.
Também aprendi, ao longo dos anos, que nos fazem inúmeras vezes autores de expressões que não usamos, nos atribuem palavras quando estivemos em silêncio, e nos incutem gestos apesar de estarmos imóveis.
Por tudo isto respondo sempre, por mais incómodo que seja: dizendo o que penso, escrevendo o que digo, assinando o que escrevo.

Rui Saraiva
Gestor

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Francisco Seguro

Uma verdade repetidas vezes confirmada ao longo da história política mundial sobretudo nos países do ocidente democrático é a de que a seguir a uma liderança político-partidária forte jamais se segue uma outra igualmente impactante. Os politólogos afirmam mesmo que após essa liderança político-partidária forte e impressiva se sucede normalmente uma outra liderança política mais débil, menos visível, apelidada ‘de transição’, que tem por objectivo ‘fazer a travessia do deserto’, para que então mais tarde possa aparecer uma outra liderança capaz de levar esse partido a novas vitórias políticas. Talvez assistamos muito em breve a uma excepção que possa confirmar essa ‘regra’.
A saída de José Sócrates de Secretário-Geral do Partido Socialista após a derrota nas últimas eleições legislativas do passado dia 5 de Junho, obriga a que seja escolhido um seu sucessor. Apresentam-se como os mais fortes para essa sucessão dois homens sérios, com extenso percurso político, quer a nível partidário, quer em termos de experiência no desempenho de funções ora governativas ora de representação parlamentar. António José Seguro e Francisco Assis são candidatos de elevado valor, reconhecidos no PS mas principalmente na sociedade portuguesa e são ambos capazes de dar ao PS a necessária energia que lhe permita reganhar a confiança em si próprio, ultrapassando as sequelas do recente desaire eleitoral.
O próximo líder do PS não irá ser, nos próximos quatro anos, primeiro-ministro. Alguns socialistas ainda não perceberam que o PS será, nos próximos tempos, apenas o maior partido da oposição e o próximo secretário-geral do PS será o líder dessa oposição. E esse papel tem uma enorme responsabilidade associada.
Para fora, o novo PS deverá ser fiscalizador, participativo, negociador e proponente de alternativas para o atingimento dos objectivos e dos compromissos que também subscreveu, mas por caminhos que sejam aqueles que percorrem a sua matriz ideológica. Para dentro, o novo PS deverá reposicionar-se à esquerda rejuvenescendo os seus dirigentes. O PS não pode fazer, como apenas alguns defendem ‘a mudança na continuidade’, para que esses se mantenham à frente dos seus destinos, e que são os mesmos que traçaram a estratégia política que saiu derrotada pelos portugueses nas últimas eleições.
Como grandes desafios do próximo líder do PS serão a sua capacidade em contribuir para a implementação efectiva da Regionalização e as Eleições Autárquicas de 2013, que deve saber preparar cuidadosamente, contribuindo também para as mudanças necessárias na reorganização administrativa do país, começando pelo mapa autárquico, com a redução e fusão de câmaras e de juntas de freguesia e com as fundamentais alterações na lei eleitoral autárquica, defendendo os executivos monocolores e o reforço do poder de fiscalização das Assembleias Municipais.
Estou convictamente Seguro que assim vai ser.

Por Rui Saraiva, publicado In Semanário Grande Porto, 1 de Julho de 2011