Há regras que gosto de quebrar…
Defendem alguns que há uma regra de ouro que devemos respeitar. É a regra de não nos prejudicarmos a nós mesmos. Esta regra está até transcrita num popular ditado português que profetiza que “pela boca morre o peixe”. Essa regra institui que devemos saber falar apenas quando nos for conveniente. Defende que devemos “pensar no que dizemos e não dizer o que pensamos”. Argumentam que, se quem nos estiver a ouvir não gostar do que tivermos para dizer, então que devemos manter-nos em silêncio.
A estes respondo que independentemente das consequências, perante um erro, perante uma injustiça falo, digo o que penso. Acredito que as consequências nunca serão verdadeiramente más quando estamos a defender convictamente valores, ideais e princípios em que profundamente acreditamos.
Outra regra que alguns também defendem, diz que a natureza é sábia, e que devemos saber ouvir em dobro do que devemos falar.
A esses respondo que a natureza de facto é sábia, e mesmo que devemos saber ouvir para aprender e apreender, crescendo com essa escuta atenta. Mas também respondo que se estivermos atentos ao pormenor, verificamos que a natureza foi cautelosa, porque nos colocou os ouvidos de lados opostos. E que esse pormenor não foi decerto para que pudéssemos ouvir duas vezes a mesma versão dos mesmos factos, mas sim para que possamos ouvir versões diferentes, se possível contrárias, sobre os mesmos assuntos, para depois concluirmos por nós e construirmos as nossas próprias opiniões acerca desses temas.
Finalmente, uma outra regra que gosto de quebrar é aquela que defende que perante temas delicados, que devemos limitar a nossa própria exposição, tentando sempre arranjar alguém que fale por nós, para que possamos ter espaço para a contradizer, apesar de a termos previamente instruído, se as reacções ao que disse forem demasiado severas.
Não analisarei neste texto o carácter dos que assim procedem, apesar de nas entrelinhas ficar evidente o que deles penso.
Devemos ter a coragem de não colocar outros a falar por nós, e de não esconder a mão após o arremesso da pedra. Sejam quais forem as consequências devemos assumir a responsabilidade e a autoria pelas nossas opiniões ou acções. A verdade, por muito custosa que possa ser, até para nós, deve ser sempre contada.
Também aprendi, ao longo dos anos, que nos fazem inúmeras vezes autores de expressões que não usamos, nos atribuem palavras quando estivemos em silêncio, e nos incutem gestos apesar de estarmos imóveis.
Por tudo isto respondo sempre, por mais incómodo que seja: dizendo o que penso, escrevendo o que digo, assinando o que escrevo.
Rui Saraiva
Gestor
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