Alguém um dia me disse que um dos aspectos mais importantes na nossa vida, em termos profissionais, era sabermos manter a nossa integridade, não nos deixarmos enfeitar ou mudar a nossa personalidade pelos cargos que vamos ocupando ao longo da nossa carreira, e que nunca devíamos esquecer a nossa natureza e a nossa origem, nem nunca nos devíamos afastar de quem nos acompanhava antes de tudo começar.
Procuro cumprir este ensinamento, que reconheço como um dos mais sábios conselhos que recebi.
Qualquer desafio, qualquer responsabilidade, qualquer cargo, para o qual tenhamos conquistado a sorte de o poder assumir, vai decerto moldar-nos, ensinar-nos pelas vivências intrínsecas ao desempenho do mesmo. Mas tal não nos deve transformar, ou fazer com que deixemos de ser quem éramos antes de o assumir ou mesmo fazer com que passemos a sentirmo-nos superiores aos demais ‘mortais’ com quem lidamos no quotidiano.
Incomoda-me a altivez na postura, a distância assumida, e mesmo o ar de extrema auto-importância subitamente ganho por alguns dos que antes conhecia e com quem me relacionava com enorme naturalidade e muito ‘à vontade’.
Quem assim age revela falta de estrutura como profissional e principalmente como pessoa.
Há quem explique este caso da seguinte forma: quando alguns sentem que muito alto subiram na escada social ou profissional, passando a olhar de cima para todos os demais, que isso acontece porque passaram também a aceder a uma atmosfera onde o oxigénio rareia na directa proporção da lucidez.
Tudo na vida é efémero, até a própria vida. Como tal devemos encarar cada lugar que ocupamos como um verdadeiro desafio que nos foi apresentado para ser ultrapassado com competência e enorme sentido de responsabilidade, para o qual devemos estar devidamente preparados dando o nosso melhor na procura da obtenção dos melhores resultados. Mas devemos assumir cada desafio como transitório, e que quando terminar regressamos ao nosso lugar anterior.
Se enquanto estivermos empossados dessa responsabilidade nos afastarmos de nós mesmos, nos desligarmos da nossa própria realidade, deixarmos de conhecer quem antes nos era próximo e destratarmos quem nos rodeia temos garantida a nossa própria solidão quando tudo acabar.
Tal como na gíria popular se canta que ‘quanto mais alto se sobe, de mais alto se pode cair’, haja pouca sustentação de cada degrau que se sobe, de repente um passo firme em cima de alguns dos princípios básicos se transforma num valente tropeção.
O único e verdadeiro melhor resultado final possível para quem abraça o desafio de ocupar um cargo de muita elevada responsabilidade será que o dia seguinte, no que ele significa nas relações que se tem com todos os que nos rodeiam, seja igual ao dia antes de tudo começar.
Esse caminho sim, revelará uma realização plena e um futuro ainda mais promissor.
Rui Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - 9 de Setembro de 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário