“Depois da tempestade vem a bonança”. São estes sábios pensamentos, transpostos para a sabedoria popular, nestes pequenos ditados que passam imutáveis de geração em geração, que muitas vezes nos ajudam a relativizarmos a dura realidade que nos envolve. Ora porque comparamos o nosso tempo com a realidade passada, por terem sido esses tempos mais difíceis, ora porque lhe damos um enquadramento diferente, colocando antes e em primeiro plano, no centro das nossas atenções, tudo aquilo que mais importância e significado tem para nós.
Num momento em que toda a humanidade se encontra perante crises de origens diversas e com graus de profundidade muito diferentes, assistimos à tomada de consciência global de que algo tem de ser feito e de que só o poderá ser com o contributo simultâneo de todos, de uma forma global.
Começamos a ter alguns sinais que nos permitem ter esperança num futuro melhor.
Como nunca antes pudemos assistir todo o nosso planeta se manifestou, no passado Sábado 15 de Outubro. Milhões de cidadãos, do Oriente ao Ocidente, do hemisfério sul ao hemisfério norte, na Austrália, em Taiwan, na Europa, nos Estados Unidos, milhões exprimiram o seu descontentamento e a sua indignação. Estamos perante um movimento transnacional de cidadãos desconhecidos, que se coordena entre si, e que está a tomar em mãos acções concretas de manifestação e de protesto organizado para dizer “basta”.
Manifestantes organizados em vários grupos com nomes tão diversos como: “os indignados”, “os 99%”, “os geração à rasca”, “os Occupy Wall Street”, mas cujo fito é a todos comum, mudar o sistema em que o mundo tem estado assente, mudar do actual modelo de uma economia quase em exclusivo baseada nas finanças, baseada nos seus movimentos financeiros e sustentada nos enormes ganhos financeiros, obtidos de forma fácil e rápida, cujas faces visíveis são as suas principais praças financeiras mundiais.
Sinto que a globalização finalmente está a demonstrar também os seus benefícios, sejam eles a vontade de se mudar de sistema de organização das sociedades, a necessidade de se mudar a forma como as economias se organizam e se relacionam, seja finalmente a necessidade de todos os cidadãos terem um papel activo nessa mudança.
Foi necessário chegar-se ao limite do aceitável para que estes movimentos surgissem. Foi necessário que muitos quase perecessem perante as dificuldades para que muitos outros despertassem. Se calhar não teria sido necessário ser assim, mas nunca como hoje se percebe que o mundo está em rápida mudança, transformação de atitudes e de concretização de uma nova forma de estar.
É bom que quem está a liderar os nossos destinos o perceba. Quer quem nos lidera localmente, como quem nos lidera na Europa, e que percebam as novas responsabilidades que lhes cabem assumir. As mudanças que se devem efectuar não se fazem por decreto, mas sim por acções. As mudanças que se exigem não se concretizam isoladamente, mas no nosso caso, dentro de uma coordenação europeia. As mudanças não se fazem contra as pessoas, mas sim com elas.
É esta a esperança que devemos ter de um mundo melhor, com a participação activa e consciente de todos, sem excepção.
Rui Saraiva
GestorPublicado In Semanário Grande Porto - 21 Outubro 2011
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