sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dois pratos da balança

A performance macro-económica dos países baseia-se na análise de indicadores apelidados de Balanças, entre outras a Balança Comercial, a de Transacções Correntes, ou a de Pagamentos.
Ora estes indicadores revelam o saldo entre as transacções de cada país com o exterior, como sejam a diferença entre as importações e as exportações de mercadorias, ou entre os recebimentos e pagamentos de recursos financeiros. É, deste último, exemplo o recebimento das remessas de emigrantes e o repatriamento das remessas dos imigrantes.
Nas últimas semanas, têm-se intensificado as declarações tendo em vista impulsionar as empresas e agentes económicos para o aumento das exportações, tendo mesmo sido apresentado publicamente um programa para o seu incentivo e financiamento.
Números recentes do INE revelam que as exportações subiram no 4º Trimestre de 2010 mais de 15% em relação ao ano anterior.
Na realidade o resultado continua muito desfavorável ao nosso país. As exportações não conseguem compensar em valor o peso das importações.
Portugal ainda exporta essencialmente calçado, vestuário, têxtil lar, mobiliário, alguns produtos agrícolas como a famosa cortiça, em menor dimensão o vinho e o azeite, automóveis da unidade de Palmela da AutoEuropa e começa a revelar números simpáticos na exportação de alguma tecnologia como computadores e equipamentos GPS, electricidade de fontes renováveis, combustíveis refinados, também software, design e mesmo conhecimento.
Aumentar as exportações significa conseguir que o tecido económico se regenere, se concentre ou se associe para ganhar dimensão que lhe permita penetrar nos mercados externos, reduzindo custos de promoção e de representação comercial, assim como limitar o risco contido nessas exportações.
Mas o equilíbrio deste indicador, consegue-se não apenas com o aumento do peso de um dos lados, ou seja o aumento das exportações, como também com a redução das importações.   
Esquecer ou mesmo desvalorizar este facto que é a necessidade suprema da redução das importações, até pela actual crise nos mercados internacionais de bens alimentares e do seu rápido e excessivo encarecimento, é caminhar metade de um percurso sem nunca conseguir chegar ao destino pretendido.
Os teóricos da economia têm razão, quando apelidaram estes indicadores de ‘Balanças’ para que qualquer decisor nunca se esqueça que elas são compostas por dois pratos, aos quais se deve dar igual relevo e importância, no sentido do seu correcto equilíbrio, sob pena da excessiva dependência face ao exterior, que tem de adquirir as nossas exportações, e do qual dependemos para nos alimentarmos.
In Semanário Grande Porto - em 18 de Fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Oportunidade da Crise

Na economia os períodos de crise são sempre fases de ajustamento, reorganização do tecido económico e empresarial e de renovação dos seus agentes.
Durante a crise os agentes económicos mais débeis tendem a desaparecer e os mais fortes a solidificar posições. Por vezes, ocorre a absorção pelos agentes económicos maiores e mais bem preparados, daqueles que estão numa posição mais frágil e que por via da crise não lhe resistem.
O desaparecimento de uns e a absorção de outros permite aos agentes económicos maiores, mais sólidos ou mais competitivos ganhar quota de mercado nos sectores onde intervêm. Há assim, no fim da crise um fortalecimento dos que ‘resistiram à tempestade’.
A economia torna-se mais sólida, mais robusta, e por consequência mais preparada para aproveitar os períodos de crescimento que se lhe seguem.
Na economia para existirem bons ciclos de crescimento é fundamental que existam períodos de crise. Sem elas, perpetuaria a existência de agentes económicos mais impreparados, menos sólidos, que muitas vezes sobrevivem à custa de vantagens competitivas irreais, não sustentáveis a médio e longo prazo.
Mas as crises, para além do que atrás mencionei, são também oportunidades para fazer o que deve ser feito. A crise obriga a tomar as decisões correctas.
Qualquer decisor tem dificuldade em tomar decisões difíceis, só quando perante a inevitabilidade de as ter de tomar, ou a quase obrigação é que as toma.
Um empreendedor que cria uma empresa ou se lança num negócio que corre mal, apesar de indicadores que revelam claramente o insucesso da sua ‘criação’, quase nunca decide por si a morte do seu ‘filho’. Tem de existir uma quase obrigação para que um empreendedor decida o fim da sua iniciativa.
Se em Portugal o empreendedorismo é difícil, é-o essencialmente por isto. A dificuldade de criar empresas, de criar produtos, ou de lançar negócios está na dificuldade da resposta à pergunta seguinte: “… e se correr mal?”.
Nos países anglo-saxónicos está desde há muito tempo enraizado o hábito de criar e de destruir empresas, negócios e iniciativas empresariais.
Eu sou um fervoroso adepto da cultura da “destruição criadora”, conceito de gestão pouco concretizado na cultura empresarial portuguesa. Devemos todos apreender este conceito e aplicá-lo para um maior desenvolvimento da economia e para alcançarmos um maior número de novas empresas criadas.  
Não mais existirá o facilitismo dos últimos anos, com taxas de juro baixíssimas, em que as empresas portuguesas excederam em muito o limite razoável para alavancarem com endividamento os seus negócios, mantendo artificialmente ‘vivas’ as suas criações.
Nas empresas é preciso saber quando ‘desligar a máquina’, fazer um ‘luto’ rápido, e encetar novas iniciativas e criações.

In Público 17 de Fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Intervenção Central

Desde o início deste ano, assistimos pela Comunicação Social a notícias que davam conta da intervenção do Banco Central Europeu e de alguns bancos centrais nacionais com a compra nos mercados secundários de dívida soberana dos países mais frágeis ou mais expostos, numa tentativa (diziam os ‘especialistas’) de aliviar a pressão dos mercados. Estas intervenções foram aplaudidas por todos, pelos governos dos países, pelos bancos comerciais, pelos agentes económicos. Ninguém falhou no aplauso público.
Mas o que é que se passou de facto ?
Muitos ‘Fundos de Investimento’ aproveitaram essa intervenção para vender à Segunda-feira no mercado secundário (mercado de transacção) dívida soberana de determinados países, dívida essa que esses ‘fundos de investimento’ tinham tomado (adquirido) no passado e pela qual recebiam juros abaixo de 4%, libertando dessa forma capital, para com ele recomprarem à Quarta-feira, no mercado primário (mercado de emissão) dívida soberana desses mesmos países, mas pela qual recebiam agora ‘firme’ juros que chegaram aos 7%.
Há um conceito financeiro que serve para caracterizar estes movimentos : é o conceito da ‘arbitragem’, ou seja, o aproveitamento da diferença de preços entre mercados diferentes, que permitem que um agente económico possa comprar num mercado para vender noutro mercado o mesmo produto na mesma quantidade e com isso ganhar dinheiro.
Neste caso, foi vender ‘dívida soberana’ num mercado para comprar ‘dívida soberana’ noutro mercado e ganhar muito dinheiro com isso.
E foi ‘isto’ que aconteceu!
E ‘isto’ é muito grave, ora não estivéssemos a falar que serão sempre os nossos impostos a pagar esta brincadeira dos agentes (neste caso fundos de investimento), agravada pelo facto de a ‘Procura’ num desses mercados ser de instituições financeiras centrais/públicas que dependem também elas dos nossos contributos, e da ‘Oferta’ no outro mercado ser de governos que dependem de impostos para pagar os juros e o reembolso dessas emissões.
Não fosse já o bastante estarmos numa profunda crise, mas o que está a ocorrer agrava a crise em que nos encontramos.
Para além de outros argumentos, é pela ocorrência destes factos atrás relatados que sou fervorosamente a favor da emissão de dívida europeia, pelo Banco Central Europeu, com subsequente empréstimo do capital que resultar dessas emissões para os países do Euro mais necessitados.
Mas esse ‘envelope financeiro’ deve ser devidamente acompanhado de regras rigorosas, com o devido detalhe e que devem ser cumpridas de forma escrupulosa, e cujo grau de cumprimento deve ser verificado e acompanhado em contínuo, de forma muito fina, diária, mensal, trimestral, sob pena da retirada do poder de decisão económico e financeiro ao país incumpridor.
Essa sim deve ser, para salvaguarda do nosso futuro, a desejável nova intervenção central !

In Jornal de Notícias em 13 de Fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Walk the Talk

Um empresário de referência deste país, símbolo do empreendedorismo nortenho, com enorme sucesso empresarial nas várias áreas de negócio em que intervém, e referência da capacidade de gerar riqueza e emprego em Portugal, afirma diversas vezes que um dos principais atributos para o seu sucesso no alcance dos objectivos delineados por si tem sido a coerência entre as suas atitudes e as convicções que afirma.
Ser o primeiro a dar o exemplo. Não profetizar uma coisa, para depois, com desculpas de circunstância, ou com revelações de contextos difíceis, justificar acções divergentes daquelas que de forma plenamente convicta anteriormente defendeu.
A falta de coerência é muitas vezes uma causa, talvez das mais fundamentais, para que não se produzam os resultados que se pretendem alcançar.
É assim na vida pessoal, é assim na vida profissional, é assim na vida política em todo o Mundo.
Nenhum gestor, dirigente, ou político funciona sozinho. Ninguém consegue alcançar sozinho os objectivos de uma empresa, de uma instituição ou de um país. Por muita determinação que tenha, um líder só alcança os resultados se conseguir motivar aqueles que serão os executores da sua Visão assim como de todos aqueles que têm de contribuir para o sucesso das medidas, com alterações profundas de expectativas anteriores.
Para tal é necessário comunicar inicialmente as razões para os novos objectivos, explicar os novos caminhos a serem percorridos e discutir os resultados que se pretendem obter ao longo do difícil percurso traçado. Essa comunicação deve ser clara e transparente, com linguagem acessível e entendível pela maioria, se bem que mais detalhada e mais técnica, direccionada a públicos mais específicos em fóruns devidamente preparados para essa discussão.
Com a adequação dos meios, com a respectiva alocação de recursos humanos e de recursos materiais e com a reunião das competências inerentes às tarefas definidas, deve-se iniciar o percurso proposto, sempre com o acompanhamento da performance, monitorizando os desvios, para corrigir a tempo erros comprometedores do resultado a alcançar. Todo o trajecto deve ser comunicado a ‘pari passo’ aos executores, e a todos aqueles a quem são pedidos ‘sacrifícios’ para alcançar o objectivo último.
A falta de conhecimento do grau de execução, e das etapas melhor ou menos bem sucedidas poderá provocar a desmotivação, ou o afastamento face aos compromissos.
Mas, mais grave do que isso é serem descobertas incoerências de execução, é serem conhecidas pós-facto a autorização de excepções não devidamente explicadas.
Essas incoerências são a chave do insucesso do líder !
In Semanário Grande Porto em 11 de Fevereiro de 2011